Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Com produção limitada, Brasil não deve aproveitar demanda da peste suína

Crise na China cria vácuo para exportação brasileira de porcos, que cresceu 16% de janeiro a maio deste ano

Por André Romani Atualizado em 7 jun 2019, 16h22 - Publicado em 7 jun 2019, 10h00

A peste suína africana (PSA) dizima a produção chinesa de porcos desde agosto do ano passado e cria uma oportunidade única para o mercado brasileiro de suínos. Entretanto, a previsão de especialistas é que o Brasil não consiga aproveitar essa chance de atender à demanda e elevar as suas vendas.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior revelam que a exportação de suínos cresceu, em volume, 16% de janeiro a maio deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Quando compara-se apenas as vendas para as China, o aumento é de 12%. Apesar desse crescimento, o Brasil não deve conseguir aproveitar a oportunidade como poderia devido a “fortes limitadores”, segundo Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Nossa produção é pequena. Exportamos em média 700 mil toneladas. A disponibilidade este ano não vai ser tão absurda”, afirma.

Essa produção pequena é consequência de um mercado instável, principalmente nos últimos anos, segundo especialistas. O embargo da Rússia, principal comprador brasileiro, durante quase todo o ano passado, é um dos exemplos disso. Além da baixa produção, a cadeia de exportação de suínos não é integrada como poderia, dependendo ainda de produtores individuais, que são “mais cautelosos em aumentar a produção e, muitas vezes, não têm o capital necessário para tal”, afirma Juliana Ferraz, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).

Apesar desses fatores, a produção suína brasileira está longe de ser irrelevante. O Brasil é o quarto maior produtor e exportador de suínos do mundo. Já a China é a maior exportadora e a maior consumidora dessa carne. Com isso, o surto da peste, que é inofensiva para os humanos e fatal para os porcos, abre espaço para o Brasil adentrar mais intensamente tanto no país asiático como em diversos mercados do mundo, que antes compravam apenas do chinês.

O Brasil tem, então, uma chance única de exportar para o maior mercado do mundo, que perdeu cerca de 22% de seu rebanho. “A crise chinesa não é de seis meses, mas de alguns anos”, afirma Turra, enfatizando que o problema não deve ter um fim tão rapidamente. Segundo ele, o fato de o país ter muitos porcos “vivendo soltos” faz com que o surto se torne ainda mais difícil de controlar.

Para o especialista, a burocracia do Brasil também atrapalha, pois as autorizações para exportar são mais lentas do que o necessário. “Temos uma lista de 58 plantas de novos frigoríficos que querem e podem vender para a China, mas não têm habilitação”, afirma Turra. Os produtores ainda enfrentam outro fator: o porco demora oito meses para poder ser abatido, o que dificulta uma rápida expansão.

Continua após a publicidade

Frango surge como solução

Em comparação ao porco, o frango, por exemplo, demora apenas 42 dias para ser abatido. Mas o tempo para o abate foi apenas um dos fatores que catapultaram essa exportação em meio à crise do mercado chinês. Segundo especialistas, sua capacidade de expansão é muito maior e estruturada que a de suínos.

Com a peste, os consumidores chineses começam a procurar outras alternativas de proteína. E devido a seu preço mais baixo com relação à outras carnes como a bovina, por exemplo, o consumo de frango ganhou força. De janeiro a maio deste ano, o Brasil exportou, em volume, 15% mais frango para a China do que no mesmo período do ano passado, segundo dados da Secex. “Mesmo com a venda de suínos vinda de fora, os consumidores chineses ficam receosos de comprar”, explica Ferraz, do Cepea.

O Brasil hoje é o maior exportador de frango do mundo, segundo a ABPA. Para Ferraz, a produção de frango no país tem suas cadeias mais interligadas com a indústria, o que permite uma expansão mais rápida. “Parte dessas indústrias estava com a capacidade ociosa no ano passado”, afirma ela, ressaltando que há espaço para crescimento. “É uma grande oportunidade para o Brasil crescer nesse setor”, avalia Turra.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.