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Todos ganham com mais techs na bolsa, diz CEO da Totvs

Executivo da empresa de software pioneira na B3 defende que ações não estão muito acima de média histórica; dólar é empecilho para abrir capital na Nasdaq

Por Luisa Purchio 20 fev 2021, 10h00

Dennis Herszkowicz, presidente da TOTVS, é um dos precursores da tecnologia do país. Aos 26 anos, em 1999, em uma época de conexão de internet dial-up repleta de ruídos, ele fundou a Gilbratar, uma plataforma de leilão online. De lá para cá, Herszkowicz passou por diversas empresas do setor e acompanhou de perto a abertura de capital da Totvs, em 2006, a primeira empresa de tecnologia da informação da América Latina a fazer IPO, e da qual hoje é CEO. Naquela época, pouco anos depois do estouro da bolha da Nasdaq, a bolsa de tecnologia americana, a desconfiança neste mercado era grande. De lá para cá, no entanto, a empresa se valorizou mais de 2.000% no mercado de ações e continua com planos de expansão. “A Totvs é uma empresa sempre buscando fusões e aquisições, então, a qualquer momento podemos ter novidades neste fronte”, disse o executivo em entrevista a VEJA.

As ações das empresas de tecnologia, principalmente nos EUA, estão muito valorizadas e alguns analistas questionam se estamos diante de uma bolha. Qual é a opinião do sr.?
Eu fundei a Gibraltar, uma empresa de internet em 1999, antes do estouro da bolha da Nasdaq, que foi em março de 2000. Então, vivi esses dois momentos intensamente. A grande diferença está no fato de que naquela época não é que as empresas não tinham lucro, elas não tinham receita, simplesmente não faturavam nada, só tinham tráfego de pessoas, eventualmente page views, mas não havia modelo de negócios, nem nada disso. Hoje tem uma infinidade de empresas de tecnologia e de internet que eventualmente ainda não tem lucro, mas que já são negócios gigantescos, com bilhões de receita, atendendo milhões de clientes e resolvendo uma série de problemas. Os negócios de tecnologia de hoje têm uma relevância e uma consistência infinitamente maior que nos anos 1999 e 2000, isso é incontestável. Se existe bolha e se o preço está mais alto do que deveria, isso é uma outra discussão.

A qual discussão se refere?
Se olhar tecnologicamente, os múltiplos que estão sendo pagos são pouco acima da média histórica, mas não muito acima, e são muito menores do que na época do estouro da Nasdaq. A minha opinião é que não há uma bolha generalizada, pode ter uma ou outra empresa, um ou outro setor, mas não acho que seja de maneira generalizada. A coisa não está muito distante das médias históricas.

Quando a Totvs abriu IPO, havia uma dúvida muito grande sobre a empresa?
A Totvs sempre foi uma empresa com uma solidez e uma consistência muito grande e isso vem de uma combinação que continua válida até hoje. É um modelo de negócios muito baseado em receita corrente e um índice de renovação de clientes de quase 100%. Essa consistência do modelo de negócios já existia desde 2006, lá no IPO. E, de outro lado, o que a Totvs se propõe a fazer é software de gestão, o ERP. Naquela época, a proposta de valor já era algo muito poderoso. O ERP que a Totvs oferece e trabalha, que é para empresa pequena e média, são essenciais para que essa empresa abra todo dia, para que consiga operar. Quando tem essa combinação de uma proposta de valor muito crítica para o cliente e um modelo de negócios consistente, você tem uma empresa muito sólida. E essa solidez ao longo do tempo provavelmente se traduz em uma proposta financeira e operacional muito boa, e foi o que aconteceu. E quando tem isso, é natural que a ação se valorize fortemente. Do IPO para cá, a valorização gira em torno de mais ou menos 2.000%. Desde aquela época, esses diferenciais competitivos da Totvs já existiam, eles foram sendo reforçados.

Qual era o principal questionamento à época?
Como não existia conhecimento de tecnologia, as pessoas não sabiam o que a Totvs fazia, qual é a proposta de valor. Boa parte dos analistas e investidores tinham dificuldade de entender exatamente o negócio, por que tinha um diferencial competitivo importante. Não era algo simples de se entender. E, naturalmente, no mercado financeiro, quando se tem alguma dúvida isso gera a expectativa de que as coisas não darão tão certo. O mercado adora certezas. Quando há algum grau de incerteza, falta de visibilidade e entendimento, as pessoas tendem a achar que o risco de não funcionar é alto. Graças a Deus não foi o que aconteceu e hoje a realidade é outra. Quando as pessoas não entendem muito bem o que uma empresa de tecnologia faz, parece que se sentem ainda mais atraídas e acham que estão diante de uma boa oportunidade, como se todos estivessem vendo uma coisa que eu ainda não vi.

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Hoje a Totvs tem muito mais concorrentes de tecnologia na B3. Como isso impacta na empresa?
Concorrência é algo positivo. Os EUA está na frente em tecnologia exatamente porque a quantidade de empresas listadas lá é brutal, tem centenas e centenas de empresas de tecnologias e isso faz com que o grau de atenção e de conhecimento aumente muito. No passado, já se imaginou que se juntássemos lojas do mesmo setor em um mesmo lugar isso seria ruim e já está provado que não é. Uma rua só de lojas de noivas por exemplo é bom porque o consumidor já sabe que ali vai encontrar o que quer, e vai direcionado para lá. A mesma coisa acontece com ações listadas. Se só houver apenas uma empresa de tecnologia listada, ninguém quem vai dar atenção para isso. Quando passa a ter 10, 20, 30 empresas de tecnologia listadas, o grau de atenção e o número de empresas que vão estar dispostas a colocar dinheiro ali é muito maior. No final do dia, todo mundo sai ganhando.

Abrir capital nas bolsas dos Estados Unidos é melhor que no Brasil?
Tem o lado bom e o lado ruim, assim como tudo na vida. Eu acho que exatamente pelo fato de que o mercado americano tem centenas e centenas de empresas que fazem com que o grau de conhecimento seja maior, isso atrai mais investimentos. Por outro lado listar lá fora tem alguns inconvenientes para uma empresa brasileira que só tem negócios no Brasil. O resultado, por exemplo, que aqui é em reais, tem de ser reportado lá fora em dólar. Além disso, a empresa provavelmente não terá uma relevância lá fora tão grande para os investidores quanto teria aqui. Cada empresa faz a sua avaliação sobre o que é mais importante para ela.

É esta a avaliação da Totvs?
Já avaliamos várias vezes sermos listados fora e até agora sempre chegamos à conclusão de que era melhor ficar na B3. Não nos arrependemos e continuamos achando que é a melhor decisão. O principal motivo de listar fora é acreditar que o grau de conhecimento do acionista, do investidor e do analista de lá é maior. E o principal motivo de listar no Brasil é o fato de ter todos os negócios aqui e todos os números serem em reais. Para listar lá fora, é necessário reportar os resultados em dólar e isso gera uma complexidade adicional, entre outros fatores pela questão da valorização e a desvalorização do câmbio.

Que novidades podemos esperar da empresa para este ano?
A Totvs é uma empresa sempre buscando fusões e aquisições. Então, a qualquer momento, podemos ter novidades nesse fronte. Fizemos uma agora na virada do ano, compramos uma empresa pequena, a Tail Target, focada em big data. Obviamente é uma tecnologia que a gente quer dominar por completo, e compramos para trazer essa expertise para a Totvs.

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