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Com concessão inédita, VPorts eleva eficiência dos portos capixabas

A administradora dos terminais mostra os resultados consistentes da gestão por investidores em um setor historicamente dominado por estatais

Por Raísa Boing
Atualizado em 1 mar 2025, 11h40 - Publicado em 28 fev 2025, 06h00

Nos últimos anos, o Brasil avançou na concessão de rodovias e aeroportos, mas os portos permaneceram predominantemente sob a gestão estatal. Uma iniciativa para mudar esse cenário foi implementada em setembro de 2022, quando o governo federal formalizou a primeira — e única, até o momento — concessão privada de autoridade portuária no país, entregando à empresa VPorts a administração dos portos de Vitória, Vila Velha e Barra do Riacho, no Espírito Santo, por 35 anos.

Vila Velha: parceria de empresas investiu 580 milhões de reais nos portos
Vila Velha: parceria de empresas investiu 580 milhões de reais nos portos (VPORTS/Divulgação)

A concessão foi formalizada após o leilão no qual a estatal Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) foi adquirida pelo Fundo de Investimentos em Participações Shelf 119, gerido pela Quadra Capital. Outra gestora, a Valora Gestão de Investimentos, identificou oportunidades de ganhos de eficiência no projeto. “O sistema portuário tem papel fundamental na logística brasileira”, diz Cristina Tamaso, gestora de infraestrutura da Valora. “O fato de ser a primeira privatização de autoridade portuária no país traz elementos para análise sobre o impacto desse modelo na operação do setor.”

O segmento portuário brasileiro tem um histórico de forte presença do Estado. Até recentemente, a administração dos portos era realizada exclusivamente por companhias docas estaduais e federais, que gerenciavam desde a infraestrutura até a regulação das operações. A operação dos terminais de movimentação de cargas, por outro lado, já contava com ampla participação do setor privado, por meio de arrendamentos e autorizações concedidas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários. No entanto, a delegação da autoridade portuária a uma empresa privada, como no caso da VPorts, representa um modelo inédito.

Navio em Vitória: modernização e melhorias nos berços de atracação
Navio em Vitória: modernização e melhorias nos berços de atracação (VPORTS/Divulgação)
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Enquanto no Brasil esse formato de concessão é novidade, em países como o Reino Unido e a Nova Zelândia a gestão de portos é predominantemente privada, com empresas assumindo total responsabilidade pela infraestrutura e pelas operações portuárias. Esses mercados buscam maior eficiência e orientação comercial, embora exijam uma regulamentação eficaz para evitar práticas monopolistas e garantir a concorrência leal. A iniciativa brasileira, portanto, levanta debates similares sobre a viabilidade e os desafios desse formato, incluindo questões regulatórias e a necessidade de um acompanhamento rigoroso para garantir a manutenção da infraestrutura e a concorrência no setor.

O processo de concessão à VPorts teve início ainda na gestão de Tarcísio de Freitas — atual governador de São Paulo — no Ministério da Infraestrutura e foi concluído sob a administração de seu sucessor, Marcelo Sampaio Cunha Filho. Trata-se de um modelo no qual a empresa privada assume basicamente as funções de autoridade portuária, ou seja, torna-se uma espécie de síndico da área. Na prática, isso envolve administrar, planejar, fiscalizar e realizar melhorias estruturais — em vez de apenas oferecer serviços de movimentação de cargas.

Silos para grãos: a movimentação nos portos da VPorts cresceu em 2024
Silos para grãos: a movimentação nos portos da VPorts cresceu em 2024 (VPORTS/Divulgação)
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Em pouco tempo de existência, a VPorts já apresenta resultados financeiros positivos. De janeiro a setembro de 2024, a empresa registrou um lucro líquido de 81 milhões de reais, ante um prejuízo de 5 milhões de reais no ano anterior. Seu Ebitda ajustado (indicador de caixa que exclui juros, impostos, depreciação e amortização) em nove meses foi de 147 milhões de reais, um aumento de 38% em relação ao mesmo período de 2023, com margem de 61%. Para iniciar o aperfeiçoamento dos portos concedidos, a companhia e parceiros do setor investiram um total de 580 milhões de reais em obras de modernização, melhorias nos berços de atracação e aquisição de equipamentos.

No dia a dia, a VPorts não se limita a gerir a movimentação de cargas. A empresa também busca aprimorar a regulação interna e oferecer condições estruturais para a operação de diferentes empresas que ali trabalham. Gustavo Serrão, presidente da VPorts, afirma que a iniciativa funciona como um teste para avaliar os impactos da gestão privada no setor. “Em pouco mais de dois anos de concessão, fechamos onze contratos com empresas do setor, ante a média anterior de um contrato a cada quatro anos. Em 2024, a movimentação de cargas cresceu 15%, acima da média nacional de 2%”, diz o executivo.

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A movimentação total nos portos administrados pela VPorts atingiu 6,3 milhões de toneladas nos nove primeiros meses de 2024, um aumento de 21% em relação ao mesmo período de 2023. Para viabilizar esse crescimento, além das melhorias nos berços de atracação e armazéns, a empresa investiu na ferrovia Capuaba, que conecta o Centro-Oeste e o Triângulo Mineiro ao litoral capixaba. Nos próximos anos, a VPorts planeja desenvolver o porto de Barra do Riacho, em Aracruz, no norte do Espírito Santo. Trata-se de um ativo que será construído do zero, dentro do Parklog/ES, um complexo logístico que abrange os municípios de Colatina, João Neiva, Aracruz e Serra.

A agenda de sustentabilidade ambiental também está na pauta da companhia. A VPorts recebeu recentemente o Selo Pró-Clima, conferido pela Aliança Brasileira para Descarbonização de Portos, em razão de iniciativas voltadas à redução de emissões de gases causadores de efeito estufa. “Os portos integram cadeias produtivas que se estendem por diversas regiões do Brasil”, afirma Serrão. “Nosso obje­tivo é promover eficiência operacional e incorporar práticas cada vez mais sustentáveis.” Em outra frente, a da ação para a comunidade, alguns armazéns em Vitória foram revitalizados e convertidos em espaços culturais e de formação profissional.

Área de armazéns em Vitória: o Brasil precisa de novas concessões
Área de armazéns em Vitória: o Brasil precisa de novas concessões (VPORTS/Divulgação)
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Apesar dos resultados positivos obtidos até agora pela VPorts, Cristina Tamaso destaca que o setor portuário brasileiro ainda enfrenta importantes desafios regulatórios. “Muito foi feito nos últimos anos em termos de desburocratização, mas ainda há obstáculos na regulação dos portos públicos”, afirma. “O aprimoramento desse ambiente é crucial, especialmente na estruturação de novos editais, para garantir previsibilidade e mitigar riscos para investidores.”

Especialistas apontam que o modelo de concessão adotado no Espírito Santo pode incentivar discussões sobre a participação privada em outras admi­nistrações portuárias, com possíveis impactos na competitividade do setor e na capacidade de exportação do país. Embora ainda seja cedo para avaliar plenamente os efeitos dessa experiência pioneira, novas concessões e a evolução do marco regulatório podem transformar significativamente o panorama de investimentos no setor. “A previsibilidade e a segurança jurídica são fatores determinantes para atrair capital privado e ampliar a eficiência dos serviços”, diz Tamaso. Se mantiver a trilha de avanços e contar com um arcabouço de regras estruturado, a VPorts poderá consolidar-se como um exemplo de gestão privada em um campo tradicionalmente dominado pelo setor público — contribuindo para modernizar o sistema logístico brasileiro.

Publicado em VEJA, fevereiro de 2025, edição VEJA Negócios nº 11

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