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Casos Magazine Luiza e Americanas acendem alerta no mercado

Embora sejam situações diversas, uma conclusão parece óbvia: as grandes redes brasileiras de varejo não estão bem

Por Pedro Gil, Felipe Erlich Atualizado em 4 jun 2024, 09h54 - Publicado em 19 nov 2023, 08h00

Os grandes escândalos financeiros costumam deixar rastros de destruição nos balanços das empresas que os protagonizam, mas eles têm um aspecto que pode ser considerado positivo: o efeito “saneador” que provocam. É inegável que as investigações da Lava-­Jato sobre corrupção corporativa levaram ao aprimoramento das práticas de governança das grandes companhias. Um estudo da Câmara Americana de Comércio (Amcham) constatou que 45% das corporações nacionais decidiram criar um setor exclusivo para compliance após o advento da operação liderada pela Polícia Federal. Agora, um novo exemplo confirma essa premissa. Na terça-feira 14, a Magazine Luiza, uma das maiores redes varejistas do país, informou que descobriu “incorreções” em processos contábeis que levaram ao ajuste de nada desprezíveis 830 milhões reais em seu patrimônio líquido do final de junho. O interessante é que a empresa só decidiu investigar o caso após denúncia anônima feita pouco depois de o caso Americanas aparecer — portanto, é possível que o denunciante tenha se inspirado nesse episódio.

Fred Trajano, CEO da Magalu
ERRO ASSUMIDO - Trajano, CEO da Magalu: “A empresa apurou e agiu” (Bruno Rocha/Fotoarena/.)

A rápida resposta da Magazine Luiza, que contratou a TozziniFreire Advogados e a consultoria PwC — a mesma que analisou os números da Americanas — para realizar uma varredura em suas contas, é outro indicativo de como escândalos de grandes proporções deixam ensinamentos no mercado corporativo. “Casos assim costumam levar a ajustes em outras empresas”, diz Arthur Pitman, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Após o ocorrido, a Magazine Luiza afirmou que pretende revisar controles internos e melhorar mecanismos de governança. “A empresa apurou, constatou, agiu e vamos em frente”, disse Frederico Trajano, presidente da Magazine Luiza, em reunião com investidores na qual tentou reduzir danos. De todo modo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo para investigar o caso.

Vanished  Billion Brings Down Century-Old Retailer In A Week
DRAMA - Americanas: primeiro balanço após a fraude mostrou situação caótica (Gustavo Minas/Bloomberg/Getty Images)

Em sua defesa, a Magalu argumenta que não há evidências de fraude ou má conduta e que o problema se deve a imprecisões nos registros de bonificações em algumas transações comerciais. Para além do deslize técnico — se for esse mesmo o caso —, especialistas dizem que a empresa deveria ter sido mais cuidadosa com suas contas. “O caso da Magalu parte da fragilidade de processos”, diz Ana Paula Tozzi, especialista em varejo e presidente da AGR Consultores. “É muito diferente do episódio Americanas, que teve fraude contábil.”

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Embora sejam, de fato, situações diversas, uma conclusão parece óbvia: as grandes redes brasileiras de varejo não estão bem. Há alguns dias, a Casas Bahia, também dona da rede Ponto, reportou prejuízo de 836 milhões no terceiro trimestre de 2023, cifra três vezes maior em relação ao mesmo período de 2022. Na Magazine Luiza, as dívidas saltaram de 456 milhões de reais em 2018 para 7,2 bilhões de reais agora. A Americanas, que está em recuperação judicial, apresenta o caso mais dramático, com dívidas de 42,5 bilhões de reais.

Na quinta-feira 16, a Americanas deu mais um indicativo de sua colossal crise. Após adiar por quatro vezes consecutivas a divulgação das demonstrações financeiras de 2022 — a data inicial era março, que foi postergada para maio, passando mais tarde para outubro e, enfim, novembro —, a empresa informou que teve prejuízos de 12,9 bilhões de reais no ano passado, o maior desde que foi fundada, em 1929. Além disso, o balanço corrigiu o resultado de 2021, que havia sido divulgado em fevereiro de 2022. Em vez do lucro de 731 milhões de reais, conforme havia sido dito na versão original da prestação de contas, a companhia, na verdade, perdeu 6,2 bilhões de reais em 2021. Ou seja, os números anteriores eram pura fantasia. Em fato relevante enviado ao mercado, a Americanas alegou que “foi vítima de uma fraude sofisticada e muito bem arquitetada, o que tornou a compilação e análise de suas demonstrações financeiras históricas uma tarefa extremamente desafiadora e complexa”. Pelo visto, a crise por lá está longe de ter um final feliz.

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Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2023, edição nº 2868

Nota da empresa: A Magalu afirma que “já adotou com celeridade uma série de medidas após a conclusão de apuração independente que revelou incorreções em lançamentos contábeis relacionadas ao período de competência do reconhecimento contábil de bonificações em determinadas transações comerciais da companhia. Dentre as ações colocadas em prática pelo Magalu, destacam-se: revisão das matrizes de riscos e controles internos do processo de negociação comercial; melhoria dos mecanismos de governança que garantem a efetiva segregação das funções relacionadas à execução das etapas do processo de negociação e apropriação das bonificações; aprimoramento de sistema automatizado de gestão de verbas de fornecedores e aprimoramento do plano e rotina de auditoria interna sobre os processos de negociação comercial”.

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