CASACOR se prepara para desembarcar na Costa Rica e em Dubai
Em seus 38 anos de existência desde a primeira edição em São Paulo, o evento se espalhou pelo Brasil e foca agora em aplicar a internacionalização

Já faz tempo que a CASACOR deixou de ser apenas uma mostra de arquitetura e decoração com ambientes cobiçados por quem busca inspiração ao renovar a casa, o escritório e o jardim. Em seus 38 anos de existência desde a primeira edição em São Paulo, o evento se espalhou pelo Brasil, trouxe tendências de lifestyle, moda e gastronomia, se consolidou como referência para profissionais e marcas do mercado e fincou pé em outros pontos das Américas, com edições em Miami, no Peru e na Bolívia. No curto prazo, a estratégia é reforçar a internacionalização. Uma versão inédita será montada na Costa Rica em outubro, marcando a primeira incursão na América Central, com trinta ambientes assinados por decoradores locais. O próximo passo, segundo o presidente André Secchin, é chegar a Dubai. “O emirado tem 3,8 milhões de habitantes, recebe 1,2 milhão de turistas por mês, com um mercado gigante de arquitetura. Faz muito sentido estar ali”, afirma.
Empresa do Grupo Abril, que publica VEJA NEGÓCIOS, a CASACOR movimenta, apenas na edição paulista, até 15 milhões de reais por ano. A receita vem de patrocinadores fiéis (como a Dexco, de louças e metais sanitários, a Tintas Coral e a Brastemp, de eletrodomésticos, entre outras marcas), de ingressos e de franquias do evento (como as edições do Rio de Janeiro e de Porto Alegre). E desde a chegada de Secchin, em 2020, o evento incorporou uma característica importante na sua expansão: a escolha de locações. Por muitos anos realizada no Jockey Club de São Paulo, a mostra agora busca uma simbiose com lugares abandonados ou carentes de recuperação, a fim de deixar um legado por onde passa. Antes do time de arquitetos, decoradores e paisagistas apresentarem suas ideias, o time da CASACOR faz um estudo de como a estrutura pode oferecer melhorias permanentes para o cidadão.
Em 2020, o projeto Janelas levou vitrines de arquitetura e design para espaços públicos em várias cidades do Brasil. No lugar dos tradicionais ambientes internos, os profissionais criaram propostas dentro de contêineres, refletindo sobre o novo morar pós-covid. A iniciativa também teve um viés social: algumas estruturas, como cozinhas e ateliês, foram instaladas em comunidades e, depois da mostra, permaneceram como espaços de uso coletivo. A próxima edição será no Parque da Água Branca, de 27 de maio a 3 de agosto. Situado no bairro paulistano da Barra Funda, o espaço foi inaugurado em 1929. Suas edificações históricas têm um charme rústico, com a presença de animais como galinhas, pavões e patos circulando pelo ambiente. Mas parte do parque está abandonada, com madeiras podres, telhados com infiltração, vidros sujos. A situação precária do equipamento público estadual será transformada. “Os ambientes eram inóspitos, isso vai mudar”, diz Secchin, que pretende fazer disso uma prática recorrente na empresa. “Sou louco para fazer a CASACOR no colégio Caetano de Campos, na Praça da República. Já estamos conversando”, antecipa.

As últimas edições paulistanas ocorreram no Allianz Parque e no Conjunto Nacional. Por ano, o evento atrai 600 000 visitantes para ver 750 ambientes em 21 cidades, com produtos de 1 300 marcas. Em linha com o universo corporativo, a CASACOR é lixo zero e faz compensação de carbono, mas ainda está em busca de trazer mais arquitetos negros para compor o time de selecionados. “Sou de uma geração que não aceita um mundo sem diversidade”, afirma Secchin, que promete incrementar o número de profissionais nas próximas mostras.
O retorno para quem participa da CASACOR é um marco na carreira. Já passaram por ali estrelas como Sig Bergamin, Debora Aguiar, Léo Shehtman e João Armentano, entre outros. Para o arquiteto baiano Nildo José, 36 anos, presente em seis edições paulistas desde 2016, estar no evento é uma oportunidade de exercitar ideias conceituais que nem sempre consegue pôr em prática em projetos de clientes. “Faço uma investigação sobre como é morar no Brasil e mostro isso para o mundo”, afirma José, que já trabalhou em Nova York, Paris, Bruxelas e Los Angeles. Na última edição, em 2024, ele se inspirou na cultura indígena, montando uma parede de cabreúva em marchetaria, com desenhos evocando antigos mapas com vista aérea de florestas, piso de cerâmica em padrão de cestaria, tapete de palha e uma estante parecida com a de armazéns brasileiros que oferecem produtos a granel como tapioca e cuscuz.
Com a expansão internacional e o foco em recuperar espaços urbanos, a CASACOR reforça seu papel como uma plataforma que vai além da exibição de tendências. A aposta em novos territórios, como a América Central e o Oriente Médio, e o compromisso com a revitalização de locais degradados apontam para uma nova fase do evento — mais conectada ao contexto urbano e às transformações sociais que cercam o universo do design e da arquitetura.
Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13