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Brasil tem 3 pessoas que ganham quase R$ 1 bilhão por ano e pagam 1,5% de IR

Novos dados da Receita mostram o perfil de renda dos que devem ser atingidos por imposto mínimo dos super-ricos proposto pelo governo

Por Juliana Elias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 Maio 2025, 00h12 - Publicado em 2 Maio 2025, 07h07

O Brasil tem exatamente três bilionários que ganham quase 1 bilhão de reais por ano, e pagam apenas 1,5% de imposto de renda sobre o total de seus ganhos, de acordo com novos dados da Receita Federal. É a mesma alíquota de quem ganha 4.100 reais por mês (veja o gráfico completo ao fim).

São pessoas que estão na faixa entre 750 mil e 1 bilhão de reais de renda anual e figuram entre as pessoas mais ricas do Brasil, mas formam o grupo que paga uma das menores alíquotas de IR dentre todos os contribuintes.

São também o estrato que deve ter o maior aumento de imposto caso a proposta de revisão do IR apresentada pelo governo seja aprovada. O projeto propõe que todas as pessoas com renda superior a 100.000 reais por mês (1,2 milhão de reais no ano) paguem uma alíquota mínima de 10% de imposto renda, carga similar à dos contribuintes da classe média.

Nota técnica da Receita Federal à Câmara dos Deputados detalhou os dados usados para calcular o imposto mínimo dos super-ricos proposto no projeto de reformulação do Imposto de Renda (RIC 4088/2024)
Tabela da Receita mostra perfil de renda e IR médio pago pelas pessoas que devem ser atingidas pelo projeto do governo que cria imposto mínimo aos super-ricos (Receita Federal/Câmara dos Deputados/Reprodução)

Na média, cada um desses três indivíduos ganha 825 milhões de reais por ano, ou quase 70 milhões de reais por mês. Para se ter uma ideia, é, a cada mês, quase sete vezes o prêmio que a Mega Sena pode pagar no próximo sábado, que está acumulado em 11 milhões de reais. Todos os prêmios das Loterias pagam 30% de IR.

Acima desse estrato só estão outros três bilionários, ainda mais ricos, que são aqueles que estão na faixa de renda superior a 1 bilhão de reais anuais, de acordo com os números da Receita. Cada um deles ganha em média 1,2 bilhão de reais por ano, ou cerca de 100 milhões de reais todo mês – isto mesmo, são milhões por mês, não mil. O total de imposto pago por eles é de 5,5%. Juntos, esses seis contribuintes são as pessoas mais ricas do pais.

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A alíquota média paga por todos os brasileiros é de 8%, para uma renda mensal média da ordem de 4.000 reais, de acordo com estimativas feitas pelo economista Sérgio Gobetti, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e um dos principais estudiosos do tema no país. “O Brasil tem muitas rendas isentas, caso dos dividendos, e acaba violando o princípio da progressividade”, disse Gobetti em entrevista a VEJA. “Nós temos a progressividade invertida, quer dizer, um sistema tributário regressivo: quem ganha mais, paga menos.”

A Receita não fornece dados pessoais dos contribuintes, apenas os números totais por faixas, extraídos das declarações anuais do Imposto de Renda. A média pode ser calculada dividindo a renda total de cada grupo pelo número de pessoas.

Governo detalha cálculo por trás de projeto do IR

Os números fazem parte de uma nota técnica entregue recentemente pela Receita Federal e o Ministério da Fazenda à Câmara dos Deputados, e a que VEJA teve acesso. O documento detalha as bases de dados e contas que embasaram a elaboração do projeto de lei apresentado em março pelo governo, que isenta os salários de até 5.000 reais de IR e, em contrapartida, amplia o imposto dos mais ricos.

O projeto propõe que todas as pessoas com renda superior a 100.000 reais por mês (1,2 milhão de reais no ano) paguem a alíquota mínima de 10% de imposto. Quem já paga mais do que isso não terá aumentos, e quem paga menos terá que complementar. Similarmente, todos com renda entre 50.000 e 100.000 por mês (600.000 a 1,2 milhão de reais ao ano) também passarão a ter um imposto mínimo a cumprir, que crescerá gradativamente de 0% a 10%.

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O cálculo de Gobetti, do Ipea, entretanto, é que, na prática, basicamente quem ganha a partir de 90.000 reais por mês deve sair pagando mais, já que as alíquotas mínimas previstas para os grupos do início são bem pequenas, de 3% ou menos.

As pessoas com renda superior a 600.000 reais por mês, recorte onde começa a valer o imposto mínimo dos super-ricos proposto pelo governo, são a porta de entrada do 2% mais rico, de acordo com dados de outro pesquisador do Ipea consultado por VEJA, o economista Pedro Humberto de Carvalho Junior, também especializado em tributos e distribuição de renda.

O recorte diz respeito aos 2% mais ricos dos contribuintes, isto é, todos os que fazem a declaração de Imposto de Renda anual. Estes, por sua vez, são um grupo de apenas 38 milhões pessoas, ou um quarto de toda a população adulta do país. Só são obrigadas a fazer a declaração as pessoas com ganho anual superior a R$ 33.888 mil reais, considerada as regras para a declaração de 2025, o que exclui a maior parte dos trabalhadores.

Sem dar detalhes, o governo afirma que 141 mil contribuintes serão afetados pelas novas regras, ou seja, precisarão pagar mais imposto do que pagam hoje caso elas sejam aprovadas. Eles representam, entretanto, apenas uma parcela de todos os que ganham 600.000 reais ou mais – um total de 760 mil pessoas, de acordo com os dados dos pesquisadores do Ipea. Ou seja, apenas um quinto do 2% mais rico dos contribuintes pagará mais imposto.

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Procurados, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal não responderam à reportagem.

Milionários pagam menos que classe média

Os dados compilados por Carvalho, colhidos dos números públicos da Receita referentes às declarações do IR de 2022, mostram o que qualquer pessoa que conheça minimamente a tributação da renda no Brasil já sabe: o imposto cobrado das pessoas físicas é progressivo até chegar perto da ponta da pirâmide. Dali em diante a alíquota efetivamente paga começa a despencar.

A alíquota média de IR mais alta atualmente é de 10,2%, paga por pessoas com rendas entre 20 mil e 25 mil reais por mês. Elas são o início dos 10% mais ricos. Dos 7% mais rico em diante a alíquota começa a cair, até chegar a uma cobrança média de 3,6% no 1% do topo, onde a renda média mensal é de 37 milhões de reais, de acordo com o levantamento. A maior renda do país, ou seja, aquela da pessoa mais rica do Brasil, de acordo com as declarações de IR à Receita captadas pelo levantamento de Carvalho, é de 1,3 bilhão de reais ao ano, ou o equivalente a 110 milhões de reais por mês.

O imposto regressivo a partir do alto da pirâmide é uma excentricidade do sistema brasileiro e acontece, basicamente, por conta da isenção dos dividendos, que são a parte do lucro das empresas paga a seus donos e acionistas. Eles formam a maior parte da renda dos 1% mais rico, mas são isentos  de imposto no Brasil, algo que acontece em pouquíssimos outros países.

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