“Brasil sempre tropeça nas próprias pernas”, diz economista da Austin
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, alerta para dificuldades do cenário político

Com o início da queda de juros, safra recorde de soja, aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados e o próprio arcabouço fiscal, aprovado na semana passada, o mercado começou a ajustar expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Analistas, que em janeiro previam crescimento de 0,8% da economia em 2023, agora já falam em 2,3%.
Em julho, a Austin Ratings melhorou a perspectiva de rating soberano do Brasil porque um dos entraves, que era a questão fiscal, melhorou com a aprovação do arcabouço fiscal. A casa preferiu manter inalterada a nota de crédito do Brasil em BB+, dado o histórico do país em tropeçar nas próprias pernas. “O Brasil sofre constantemente porque na maior parte do tempo a política interfere no ambiente econômico”, lamenta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.
Em entrevista a VEJA, Agostini diz que o Brasil sofre “constantemente” com a agenda política e que, não fosse por isso, o crescimento do PIB neste ano seria ainda maior.
A Austin Ratings manteve inalterada a nota de crédito do Brasil, apesar de melhorar a perspectiva. Por quê? Historicamente, o Brasil sempre tropeça nas próprias pernas. O que a gente vê é que o mundo pode até sofrer momentaneamente com crises econômicas, mas o Brasil sofre constantemente porque na maior parte do tempo o ambiente político interfere no ambiente econômico. Se não interferisse, o crescimento do PIB neste ano seria muito maior. Em julho, a Austin melhorou a perspectiva de rating soberano e esse relativo otimismo com a economia brasileira foi justamente porque um dos entraves da melhora do rating, que é questão fiscal, tem uma perspectiva de médio e longo prazo ainda melhor do que estamos vendo agora. Adicionalmente, temos inflação mais baixa e juros caindo. Isso nos motivou.
De que forma a agenda política atrapalha a pauta econômica? Na Austin não melhoramos a nota, só a perspectiva, justamente por esse lado subjetivo de ambiente político. Fisiologismo faz parte da pauta política e do jogo, o problema é que isso impede o lado econômico. As negociações entre Congresso e Executivo não se resolvem rapidamente. Ano que vem se formam as bases eleitorais para as eleições de 2026 com dinheiro das emendas parlamentares. O congresso afrouxou a corda no início do ano, mas agora está fazendo tensionando novamente para chegar ao que eles querem. E se não aprovasse o arcabouço? Esse cenário de otimismo começaria a dar lugar a algum pessimismo.
Após aprovação do arcabouço, o próximo desafio será a reforma tributária. O que esperar desse cenário? Sabemos que a reforma tributária vai ser um pouco mais lento e isso é oneroso para a economia. Se não acelerar e chegar num consenso, a gente vai tirando potencial de investimento no ano que vem porque tira espaço do momento de otimismo dos investidores e começa a dar espaço para pessimismo, gerando menor espaço para investimento e geração de emprego.
A nota BB+ pode ser considerada boa para um país do tamanho do Brasil? Em 2022, reafirmamos essa nota, mas em julho melhoramos a perspectiva de estável para positiva. A nota do Brasil na Austin está em um nível acima do que demais agências, justamente porque acompanhamos o cenário aqui mais de perto.