Ata do Fed acena a menos cortes de juros e sugere ciclo mais gradual
Documento traz tom menos inclinado à redução da taxa e reforça que autoridade depende de dados para próximas decisões
A ata da última reunião do Federal Reserve, o banco central americano, trouxe um tom menos inclinado ao corte de juros, com destaque para o fato de que parte dos participantes do último encontro tem uma leitura mais “gradual” para os próximos movimentos da política monetária nos Estados Unidos.
“O esperado caminho para a taxa de juros, embutido pelas taxas do mercado financeiro, se elevaram notavelmente no período entre as reuniões, em meio a dados mais fortes do que o esperado em relação à atividade, sobretudo com uma notável leitura acima do esperado para a inflação e comentários de alguns participantes que foram interpretados como uma gradual recalibragem na política monetária”, diz trecho do documento.
Por mais uma vez, o Fed não abandou a mensagem de que depende de dados para dar os próximos passos, em especial porque a política monetária não tem curso predefinido. Caso venha a ajustar a direção da sua atuação, a ata destaca que é preciso trazer uma comunicação clara a respeito.
“Vi a ata com um tom menos ‘dovish’ [inclinado ao corte de juros], ao afirmar que, se os dados vierem em linha, seria apropriado mover mais gradualmente os cortes e que, se o balanço de riscos fosse alterado, o comitê poderia pausar o ciclo em um nível restritivo”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
No momento, as apostas do mercado estão divididas, com 60% apontando para um corte 0,25 ponto percentual e 40% para uma manutenção da taxa no nível atual. Para Borsoi, a ata divulgada hoje ainda permite uma expectativa de corte na reunião do mês que vem, mas com uma postura de maior cautela em 2025 com a piora nos últimos dados de inflação, principalmente no núcleo de serviços. “Acredito que o Fed deve pausar os cortes no primeiro trimestre do ano que vem”, diz.
Para Victor Furtado, chefe de Alocação da W1 Capital, a ata trouxe sinais de que ainda há muita incerteza sobre a taxa neutra dos Estados Unidos, inclusive após as eleições. “Com a vitória de Donald Trump, os juros, que chegaram a patamares de 3,5% nos títulos de cinco anos, já voltaram à casa dos 4,2%”, afirma. “A alta dessas taxas já precificava algo que o Fed mostrou na ata: a falta de confiança quanto ao controle de longo prazo da inflação americana.”
O executivo destaca também a preocupação do Fed de mandar a mensagem de que aguardará dados futuros, sem cravar indicativos dos próximos passos. “Além disso, tivemos dados recentes que corroboram com uma visão de uma economia ainda muito forte e, do outro lado, uma inflação que caminha para a meta, o que deixa a dúvida se já não estamos próximos da taxa neutra”, diz.