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As novas diretrizes das privatizações sob a batuta de Mac Cord

Com trânsito entre governadores e prefeitos, o novo secretário de Desestatizações deve encampar compromisso com concessões em infraestrutura

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 15h39 - Publicado em 14 ago 2020, 12h06

Salim Mattar deixou a Secretaria de Desestatização se queixando. Não faltaram culpados para que a agenda robusta de privatizações prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ficasse muito aquém das expectativas do mercado. “O conjunto de Judiciário, Congresso, Executivo, servidores públicos, empregados de estatais, partidos de oposição, é contra privatização”, disse Mattar a VEJA, justificando que o establishment e o corporativismo dificultaram o avanço da agenda de desestatização. Cansado, Mattar entregou o boné. As costuras internas de Guedes foram discretas e cuidadosas. “O ministro sempre trabalha com mais de um nome, ele é assim”, diz um assessor de Guedes. Com isso, Diogo Mac Cord foi escolhido minunciosamente, com a observância do cenário tortuoso para o avanço de privatizações robustas. Então secretário de Desenvolvimento de Infraestrutura dentro da pasta, as atribuições de Mac Cord serão minimamente diferentes das de Salim Mattar. 

Mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard, Mac Cord é especializado em investimentos de infraestrutura — e sua atuação comprova isso. O novo secretário foi responsável pela construção de planos importantes dentro do Ministério da Economia, como a “alternativa privada” ao Plano Pró-Brasil, o pacote de investimentos públicos defendido pelos ministros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional; e Walter Braga Netto, da Casa Civil, que gerou barulho entre o primeiro escalão do governo e desconforto na equipe econômica. Mac Cord também foi um dos principais artífices do marco regulatório do Saneamento Básico, aprovado no Congresso Nacional em junho, que prevê a atração de mais de 700 bilhões de reais em investimento privado no setor e a resolução de gargalos no sistema de água e esgoto até 2033. O novo secretário é, também, uma das cabeças pensantes por trás da nova Lei do Gás, que facilita a operação de empresas privadas ao setor, visando aumento de concorrência e diminuição no preço do produto.

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Liderando a intermediação entre o Governo Federal e estados e municípios nos pacotes de auxílio da União para as concessionárias de transporte urbano, Mac Cord é um dos principais interlocutores do Ministério da Economia junto a governadores e prefeitos — postura que deve nortear sua gestão frente à pasta responsável por orquestrar os projetos de concessão.

Dentro do Ministério da Economia, a divergência entre a Secretaria do Programa de Parcerias e Investimentos, o PPI, e Salim Mattar era gritante. O PPI é responsável pela construção dos projetos de concessão, e a secretária Martha Seillier, responsável pelo programa, vem trabalhando com, digamos, sinergia junto ao ministro Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura. Percebendo as dificuldades de se encampar os grandes projetos de vendas de empresas consideradas as cerejas do bolo, como Correios e Eletrobras, a escolha de Guedes foi pautada, portanto, em uma gestão com novas diretrizes, mais voltadas aos projetos de concessão, com participação central dos estados e municípios. Apesar das adaptações realizadas pelo ministro para encampar a privatização da Eletrobras, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é um dos principais entraves para a aprovação do projeto.

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O cargo deixado por Salim Mattar é um prato cheio. O secretário Mac Cord será o responsável pela gestão de diretorias e cargos executivos em estatais, o que fez crescerem os olhos de partidos políticos a partir do desgaste do ex-secretário e de pressões vindas do Palácio do Planalto, primordialmente a ala militar, sobre o nome de Mattar. Ainda respaldado pelo presidente, Guedes conseguiu blindar o posto. “Apesar da saída do Salim, a escolha do Diogo representa um reequilíbrio de forças. Tinha muita gente ligada ao sistema que estava de olho”, diz um auxiliar de Guedes.

O ministro, ao que parece, entendeu que vender empresas será uma missão muito mais árdua do que previa, até pela própria ojeriza do presidente Jair Bolsonaro ao tema. Ele vetou as discussões pela venda do Banco do Brasil, da Caixa e, historicamente corporativista, não mostra afeição pela pauta. “Aqui dentro, está rolando uma partida de tênis: todos tentam rebater a bolinha mais longe para o outro não pegar. Aí o jogo não flui”, diz uma fonte no Ministério da Economia.

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