‘As margens estão muito apertadas’, diz presidente do Banco BMG sobre consignado
Felix Cardamone fala sobre os desafios do crédito consignado privado, em vigor desde março

O novo crédito consignado privado elevará a inflação? Sendo mais barato, parte dele irá para o consumo e gerará alguma pressão. Mas o que vemos são clientes trocando dívidas caras por dívidas mais baratas. Usam o consignado para pagar o cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito. A baixa renda também é muito carente de crédito. Juros baixos para comprar um carrinho de pipoca e trabalhar fazem diferença.
O endividamento das famílias preocupa? O mercado está desafiador. A conjuntura não é boa nem para o cliente nem para o banco. A inflação afeta a capacidade de pagamento do cliente, e os juros altos reduzem o valor dos empréstimos. Nosso portfólio de crédito é mais seguro e nossa inadimplência é baixa, mas acompanhamos isso de perto.
E o impacto desse cenário nos bancos? No consignado, o governo fixa a taxa de juros final, hoje em 1,85% ao mês. O custo de capital não se baseia na Selic, mas na taxa DI (depósito interfinanceiro) de dois anos. As margens estão muito apertadas. O spread, que chegou a ser de 1,2 ponto percentual, hoje é de 0,60. É com ele que pagamos custos operacionais e impostos.
O consignado representou 63% da carteira do BMG, que somou 26 bilhões de reais em 2024. O que esperar de 2025? Quando se tem um spread muito baixo no consignado, privilegiamos operações com maior retorno como o crédito pessoal. Nosso apetite pelo consignado está menor.
Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13