As justificativas insólitas da Americanas em seu pedido de recuperação
Conglomerado varejista aponta patrocínio no 'BBB' e produção de ovos de Páscoa em seu pedido entregue à Justiça; montante da dívida ultrapassa R$ 40 bi
A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial na tarde desta quinta-feira, 19. Em um ofício com quase 20 páginas, a empresa apresenta motivos para que o judiciário dê aval à sua empreitada. Dentre as justificativas postas na mesa, a Americanas apresenta fatos conclusivos, que denotam sua relevância no cenário nacional, mas também justificativas inusitadas, que mostram certa prepotência, como ao declarar que sua crise poderia “afetar até mesmo o preço do ovo de Páscoa, pois se trata da maior varejista de ovos de Páscoa do mundo”.
Em uma passagem, a varejista diz ainda que sua relevância pode ser vista por ter sido uma das principais parceiras comerciais do programa Big Brother Brasil (BBB), na grade de programação da Rede Globo. “Tamanha é a magnitude da Companhia que a Americanas se tornou, nos últimos anos, o principal parceiro dos maiores programas de entretenimento do país, dentre eles o Big Brother Brasil – BBB, ‘entrando’ na casa de dezenas de milhões de brasileiros com suas propagandas e ativações no horário nobre dos canais mais assistidos da televisão brasileira”, afirma em trecho do ofício. Com a crise financeira, a anunciante desistiu da sua cota de patrocínio dias antes da estreia da atual edição e foi substituída pela concorrente Mercado Livre.
Por outro lado, a Americanas aproveitou o espaço para dizer que continuou crescendo, mesmo com os diversos problemas políticos apresentados pelo Brasil nos últimos anos, mencionando indiretamente, por exemplo, a crise registrada por varejistas oriunda da pandemia de Covid-19. “Apesar de o Brasil enfrentar, nos últimos anos, uma crise sem precedentes, em função de reiterados eventos políticos, econômicos e sanitários que culminaram em um aumento vertiginoso da inflação e, também, da taxa de desemprego, o Grupo Americanas conseguiu permanecer de pé, gerando mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, arrecadando mais de 2 bilhões de reais em tributos por ano, além de manter, aproximadamente, 3.600 estabelecimentos espalhados por todo o país, atendendo a mais de 50 milhões de consumidores”.
A empresa deixa explícito, ainda, que, caso seu pedido de recuperação na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro seja indeferido, a decisão resultaria em “um absoluto aniquilamento do fluxo de caixa do Grupo Americanas, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis ao exercício da atividade empresarial, tal como o pagamento de fornecedores e funcionários”, afirmou. Ademais, também conclui que uma eventual quebra do conglomerado seja responsável por um “verdadeiro efeito cascata” para a cadeia de produção. “Em síntese, eventual quebra do Grupo Americanas resultaria no colapso da já tradicional e consolidada cadeia de produção no Brasil, gerando graves prejuízos para relevantes setores da economia brasileira e para os mais de 50 milhões de consumidores que se valem dos serviços prestados pelo grupo”, aponta.