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Após compra da MAP, Gol vislumbra retomada e espera consolidação

Adquirida por R$ 28 milhões, a MAP faz parte da estratégia de crescimento da empresa em Congonhas (SP) e no Norte do país

Por Felipe Mendes 21 jun 2021, 18h21

“Uma travessia no deserto.” Foi assim que o CEO da Gol Linhas Aéreas, Paulo Kakinoff, definiu o período de turbulência provocada subitamente pela perda de receita na pandemia de Covid-19. Um ano após o vírus se instaurar entre os brasileiros, o momento ainda é de cautela, mas já é possível enxergar um horizonte, conforme a vacinação ganha escala em diversas partes do país e alcança os mais jovens. Para confirmar as expectativas e evoluir a presença em mercados estratégicos, a companhia resolveu investir – mas, segundo o executivo, sem “fazer loucuras”. No dia 8 de junho, a Gol adquiriu, por 27,8 milhões de reais, a MAP Linhas Aéreas, da Voepass. A transação, que ainda depende de aval da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), acrescenta 13 pares de slots no disputado aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e em Manaus, de livre acesso, onde a MAP opera desde 2011.

Embora o negócio não envolva números dispendiosos, como seria no caso de uma possível fusão entre suas principais concorrentes nos céus brasileiros (Azul e Latam), Kakinoff mostra-se satisfeito. Segundo o executivo, a MAP, quinta maior empresa do mercado doméstico, tratava-se de uma das últimas boas possibilidades disponíveis e faz parte de uma consolidação que certamente acontecerá no setor. “A gente entende que o Brasil terá uma diversificação de destinos no setor aéreo muito intensa ao longo dos próximos anos. Por isso, a possibilidade de adicionar, por meio de aquisições, novos destinos à nossa malha, obtendo sinergias com a operação que nós já temos, é algo que faz muito sentido”, diz ele.

O executivo explica os ganhos com a transação em cada praça de atuação. “No caso de Manaus, a região Norte é uma das mais dependentes do modal aéreo regional. E a MAP desenvolve uma base de clientes lá há dez anos. Algumas rotas que eles operam nós podemos substituir e operar com o nosso jato, o [Boeing] 737, preservando o modelo de negócios da Gol, de frota única. Em outras rotas, onde a nossa aeronave não pode operar por restrições dos aeroportos, nós vamos estender a parceria com a Voepass”, exemplifica. “O aeroporto de Congonhas tem uma combinação importante dos segmentos de lazer e negócios. Obviamente, no pós-pandemia, São Paulo continuará sendo a locomotiva econômica e um mercado de alta demanda. Então, tem uma importância estratégica para diversificação dos negócios.”

Para reduzir perdas frente à pandemia, a Gol firmou um acordo de redução de salário com seus funcionários. No caso dos tripulantes, que representam 60% da folha de pagamentos da companhia, o corte foi de 50% — a redução também atingiu o corpo diretivo. Em janeiro de 2021, quando o mercado ensaiava uma retomada, a crise de abastecimento de oxigênio em Manaus (AM) fez com que a empresa recuasse a oferta, diminuindo o número de voos diários de 650 para 170. A decisão, na avaliação do CEO, foi acertada. “Fizemos uma votação e 97% dos funcionários da companhia concordaram com a redução de salário. E não recorremos à recuperação judicial, o que é um aspecto importante”, afirma, lembrando do caminho seguido pela Latam. “Somos uma das únicas companhias do setor aéreo no mundo, que, durante a pandemia, amortizou dívida, fez renovação de frota e emitiu equity(ativos financeiros)”, reforça.

A Gol concluiu, em 14 de junho, seu processo de aumento de capital, o qual foi ancorado em um aporte de 268 milhões de reais por meio da família controladora do negócio, os irmãos Constantino. Os acionistas minoritários da aérea contribuíram com outros 155 milhões de reais, elevando o total captado para 423 milhões de reais. “Nós estamos saindo dessa crise como uma empresa íntegra ao ponto de estarmos preparados para uma retomada, que, ao que parece, será muito promissora.”

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O executivo não quis comentar sobre a possibilidade de fusão entre suas principais rivais no setor aéreo, mas admitiu que a consolidação no mercado está em curso globalmente. “A indústria ao longo dos próximos anos terá alguma forma de consolidação. Acredito que no Brasil não será diferente. Isso pode se dar, por exemplo, com acordos de codeshare ou joint ventures. Não é preciso fundir as empresas, de fato, para isso, mas será necessária uma colaboração nesse formato para mitigar o impacto severo que a indústria sofreu com a pandemia”, diz ele, citando, como justificativa, um levantamento do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTCC, na sigla em inglês). Publicada em março, a pesquisa aponta que a receita das atividades do turismo retraiu 49,1% em 2020, com mais de 62 milhões de empregos perdidos. “No mundo, 92% das empresas mantêm suspensas as viagens internacionais de negócios neste momento. Isso é muito impactante”, complementa.

Quando questionado sobre os motivos de não aderir à proposta de financiamento oferecida pelo governo às empresas do setor, Kakinoff disse que a empresa buscou “outras alternativas”: “Fizemos uma série de movimentos no mercado de capitais. Amortizamos nosso term loan [dívida de curto prazo], fizemos duas emissões de dívidas securitizadas, e fizemos a incorporação da Smiles. Fizemos o nosso trabalho”, responde. Ele, no entanto, elogiou o trabalho do governo e da Anac para repactuação das tarifas de navegação e modernização dos aeroportos no país. “Há neste momento um investimento muito forte em infraestrutura no Brasil, com a privatização dos maiores aeroportos, trazendo mais qualidade para esses equipamentos. Isso tem se mostrado uma decisão correta. Existe também um novo foco na gestão dos aeroportos que permanecem sob gestão da Infraero e finalmente há um grupo de aeroportos menores onde o foco passou a ser a utilização de aeronaves de maior porte. Isso é bom para nós.”

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