Anunciada com fanfarra, moeda virtual do Facebook ainda é dúvida
Gigantes como Visa, Mastercard, PayPal e eEbay pularam fora do projeto ambicioso de Mark Zuckerberg
A fase não é mesmo das melhores para os entusiastas das criptomoedas. O Facebook anunciou com fanfarra, em junho, que estava se unindo a mais de vinte empresas para lançar uma moeda digital batizada de libra. Ambicioso, o projeto previa um meio de pagamento a ser usado pelos mais de 2 bilhões de usuários mensais da rede social — e também do WhatsApp, Messenger e Instagram — para compras on-line e transferências de valores (locais ou internacionais). Na última semana, porém, a Associação Libra, criada para administrar a divisa virtual, começou a fazer água. Desertaram do grupo gigantes como Visa, Mastercard, PayPal e eEbay — mais do que pular fora, alguns ex-membros declararam que seu envolvimento nunca fora além de um acordo não vinculante, que teria sido exagerado pelo Facebook. As defecções aconteceram às vésperas de uma convocação do Congresso americano para que o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, testemunhe na próxima quarta-feira, 23, perante os deputados sobre seus planos na seara monetária. “A libra levanta muitas preocupações referentes a privacidade, lavagem de dinheiro, proteção do consumidor e estabilidade financeira”, alertou Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (equivalente americano ao Banco Central brasileiro).
A pressão dos reguladores para frear a libra não se dá apenas nos Estados Unidos. Representantes do projeto foram convocados pelo G7 para uma reunião com autoridades de 26 bancos centrais na Suíça, em setembro, para discutir os impactos das moedas virtuais no sistema financeiro mundial. O temor dos governos é perder o controle sobre a oferta de câmbio e políticas monetárias. Não ajudam as manchas na reputação do Facebook depois da comprovação do envolvimento da rede social na distribuição de notícias falsas na última campanha eleitoral americana e no plebiscito que definiu o Brexit. David Marcus, ex-presidente do PayPal e líder da Associação Libra, postou uma série de tuítes no dia da reunião na Suíça em que explicava o lastro da moeda em câmbios convencionais — dólar, euro, libra esterlina e iene — e a ausência de riscos à soberania monetária das nações. Caberá agora a Zuckerberg convencer os congressistas americanos de seu mais novo negócio.
Publicado em VEJA de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657