Alvo da Havan e até do governo, AliExpress acelera conquista do Brasil
Atacada por rivais brasileiros, no que deve resultar em uma nova MP, o AliExpress, da Alibaba, quer entregar os produtos importados ao Brasil em um dia útil

Desde a semana passada, a Receita Federal prepara uma Medida Provisória para tributar produtos vendidos em plataformas estrangeiras no país. A movimentação aconteceu logo após uma visita a Brasília de uma comitiva de empresários, incluindo Luciano Hang, dono da Havan, e Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multilaser, que se encontrou com o alto escalão do governo, da Presidência e da Economia, além de senadores. Aproveitando as boas relações com o Planalto, o pedido foi de mais proteção contra o que alegam ser práticas de sonegação de impostos que beneficiaram sites de origem asiáticas, especialmente, chinesas, que vêm conquistando o consumidor brasileiro, caso de nomes como AliExpress, Wish, Shein e Shopee.
Enquanto a medida governamental não vem, tentando ficar alheio ao barulho, Yan Di, chefe da operação brasileira da gigante chinesa AliExpress, do grupo Alibaba, trabalha para reduzir o tempo de espera daqueles que compram produtos pelo site. Em entrevista a VEJA, concedida pouco antes à ofensiva contra a empresa, o executivo disse que a pandemia acelerou as vendas por meio do e-commerce e prometia empenho para diminuir o tempo de entrega de produtos chineses para o Brasil, o que lhe pode dar mais força frente à concorrência. “Na pandemia, nós reduzimos a entrega de produtos ao Brasil de duas semanas para sete dias. Eu quero, no futuro, reduzir esse tempo de espera para três dias, dois ou até mesmo um dia. Isso vai acontecer em breve”, projeta Yan Di. “Quando eu pego um voo para a China, eu chego lá em 24 horas. Por que uma mercadoria precisa de sete dias para chegar ao Brasil?”, questiona.
O executivo diz, no entanto, que para o produto chegar na casa do consumidor de forma mais rápida é necessária a ajuda dos “amiguinhos”, como ele denomina as companhias que trabalham com logística. O AliExpress estuda inaugurar um centro de distribuição e “mini hubs” para aprimorar sua área logística no país. Para o executivo, a infraestrutura é o principal gargalo para o desenvolvimento da indústria e do varejo no Brasil. “A tecnologia e o empreendedorismo ajudam, mas a infraestrutura segue como o principal gargalo para toda a América Latina. Quando isso melhorar, não será bom apenas para o e-commerce, mas para o varejo físico também”, afirma. “Mas nós já estamos há mais de 12 anos no Brasil. Somos pacientes.”
Questionado sobre os números da operação brasileira, Yan Di revela apenas que a plataforma do AliExpress concentra mais de 8,7 milhões de vendedores no mundo — a maioria é formada por fabricantes chineses. Ele mostra, ainda, uma tabela com dados divulgados pela consultoria Conversion, que aponta o AliExpress como um dos 10 maiores e-commerces em número de visitas no país. Sobre a entrada de outras companhias asiáticas ao país, como a Shopee, de Cingapura, Yan Di afirma que essas empresas estimulam a competição no setor. “Ninguém evolui sem competição. Independentemente das empresas que já existem no país, a gente poderia receber mais competidores, mais rivais, para mexer com o mercado”, disse o executivo.
Um dos diferenciais em comprar por plataformas como o AliExpress, ressaltado por Yan Di, é a compra de produtos com isenção de impostos de importação. “Se você gasta menos de 50 dólares, você tem isenção de impostos”, reitera ele. Isso vale apenas para compras como pessoa física, mas é exatamente esse ponto o atacado pelo varejo e pela indústria do Brasil. O grupo que visitou Brasília para levar as suas reclamações alega que empreendedores individuais utilizam o método para driblar a legislação e vender produtos importados sem tributação.
Contra a “concorrência desleal”, diversas entidades e competidores brasileiros pedem a tributação de compras feitas por pessoas físicas em portais de vendas estrangeiros. No documento com 98 páginas entregue a auditores da Receita Federal e parlamentares, a acusação contra diversas empresas, incluindo o AliExpress, é de que haveria um suposto subfaturamento de notas fiscais para burlar a fiscalização. Produtos que custariam acima de 50 dólares estariam, segundo as acusações, sendo cadastrados como de menor preço, para evitar o pagamento do imposto.
Os empresários brasileiros dizem que apenas 2% dos 500 mil pacotes que chegam na fiscalização alfandegária são de fato checados. Em nota, o AliExpress diz que é um “marketplace que permite que comerciantes e compradores se conectem diretamente” e que respeita e se esforça para “cumprir com todas as regras e regulamentos aplicáveis nos mercados em que operamos. Os comerciantes que utilizam nossa plataforma são separadamente responsáveis por cumprir as leis e regulamentos aplicáveis a eles também.” A disputa deve permanecer.