Alternativa ao dólar, crítica às ‘big techs’ e ‘aposta do caos’ permeiam discurso de Lula
Presidente fez discurso recheado de recados a Donald Trump e enfatizou a importância do multilateralismo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quarta-feira 26, um mundo multipolar e menos dependente das grandes potências, como os Estados Unidos. O palco escolhido para o discurso foi o encontro dos países do Brics, em Brasília, onde o governante destacou sobre alternativas ao dólar, criticou a “aposta do caos” de Donald Trump e a influência das gigantes de tecnologias, alertando sobre os perigos de um mundo moldado pela lei do mais forte.
Lula apontou para os riscos do protecionismo e do unilateralismo — práticas que, embora não explicitamente nomeadas, encontram eco nas políticas adotadas por governos como o de Trump. “Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a instabilidade e para a guerra”, alertou o líder brasileiro. Sua crítica velada se alinha ao crescente desconforto de países com a postura cada vez mais protecionista de economias avançadas, como os EUA, que, sob a presidência de Trump, adotam políticas de fechamento comercial e desvinculação de órgãos multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em sua fala sobre a importância de instituições globais, como a OMS, Lula se refere à saída dos EUA da organização. Durante a crise da covid-19, Trump minimizou os alertas científicos da organização e propagou fake news sobre a vacina.
O presidente também direcionou parte de seu discurso para as chamadas “big techs”, acusando-as de usar desinformação para desestabilizar governos e promover agendas próprias. Com uma abordagem crítica, Lula destacou que a inteligência artificial, atualmente controlada por poucos países e grandes corporações, não pode se tornar uma ferramenta de dominação sobre o Sul Global. “Grandes corporações não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação”, afirmou. Lula alertou para os riscos de um monopólio dessa tecnologia nas mãos de poucos, pedindo que o bloco desempenhe um papel central nessa agenda.
Lula também ressuscitou uma de suas bandeiras mais controversas: a criação de uma alternativa ao dólar como moeda de referência para o comércio internacional. Embora a ideia tenha sido recebida com ceticismo e até ameaças de retaliação pelo governo Trump, o tema voltou ao radar, com Lula defendendo que soluções de pagamento mais acessíveis e seguras podem reduzir as vulnerabilidades das economias emergentes.
A defesa de um sistema de pagamentos alternativo ganha relevância à medida que o bloco Brics cresce, com a recente inclusão de novos membros: Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Esse novo arranjo amplia o peso do bloco no comércio internacional.