Air Europa duplica receita no Brasil e quer ampliar oferta na região
Companhia espanhola visa aproveitar o bom momento do turismo europeu, com a desvalorização do euro frente ao dólar
No início dos anos 2000, o cineasta Fabián Bielinsky transportou a relação conturbada entre os argentinos e a economia para seu principal filme: Nove Rainhas. A trama retrata a história de dois malandros que vivem de pequenos golpes em Buenos Aires em meio a um cenário de caos provocado pelo colapso da taxa de câmbio fixo e do confisco dos depósitos bancários. O diretor geral da companhia aérea Air Europa para as Américas, o argentino Diego García, conhece bem essa realidade. “A Argentina é muito bonita, tem muita riqueza, reserva de água e cultura. O que acontece é que ultimamente o país está se deteriorando e a população está cansada. Muitos jovens deixaram o país. Eu, por exemplo, tenho três irmãos que vivem na Espanha”, aponta ele. “A última migração aconteceu quando se assumiu este governo atual, quando muitos empresários se foram para o Uruguai e para a Europa.”
Fanático pela Argentina, García reconhece que o Brasil é o país que mais dá frutos na América Latina para a companhia que comanda. A Air Europa, de origem espanhola, tem, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), 1,8% da participação do mercado internacional a partir de voos no Brasil, o que a coloca entre as 20 maiores companhias aéreas nesse quesito, atrás de rivais como a portuguesa TAP (12%) e a compatriota Iberia (1,9%). Hoje, a Air Europa tem sete voos semanais a partir de Guarulhos, em São Paulo, e duas decolagens semanais a partir de Salvador, na Bahia. A ideia é ampliar a oferta soteropolitana para a alta temporada. “Teremos uma terceira frequência semanal para Salvador a partir de dezembro”, conta o executivo.
De janeiro a maio deste ano, a Air Europa transportou 95.000 passageiros a partir de Guarulhos, com uma ocupação de 93%. A partir de Salvador, foram 25.000 passageiros transportados, com 90% de ocupação. A empresa também diz ter duplicado seu faturamento nos primeiros seis meses do ano frente ao mesmo período de 2022 — uma das causas para isso, ressalte-se, é o fim das restrições decorrentes da Covid-19 que ainda imperavam um ano antes.
García também ressalta o aprimoramento de sua frota de aviões, apostando no modelo Boeing 787 Dreamliner como alternativa para maior conforto e ampliação da capacidade de assentos. “O Dreamliner, dependendo do modelo, tem uma capacidade entre 20% e 25% superior ao Airbus 330”, diz ele. O executivo revela que depois de equipar a frota, a ideia é ampliar a oferta de voos nos aeroportos onde não há frequência diária e desbravar novos países, como México, Chile e Costa Rica.
Hoje, a maioria dos passageiros brasileiros da Air Europa tem como destino final as cidades Lisboa e Porto, em Portugal. A partir de Madri, capital da Espanha, é possível se conectar a 40 destinos. Se Portugal é o local preferido para brasileiros, muito por conta da língua, outros passageiros na América do Sul e Caribe têm predileção a cidades como Roma, na Itália; e Paris, na França. A empresa diz que a Europa está vivendo um momento único para o turismo. Como o euro perdeu valor frente ao dólar nos últimos tempos, tornou-se mais atrativo conhecer os países do Velho Mundo.
Política
García diz que o Brasil está em outra “autopista” em relação à Argentina, com um plano econômico mais bem definido. Para ele, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja de esquerda, seu governo é de coalizão. “O Lula é sempre igual. Uma coisa é o discurso de campanha e outra coisa é o que ele faz depois que entra. Ele sempre foi de esquerda no discurso, mas moderado para o centro nas decisões. E não está sendo algo muito diferente agora”, afirma o executivo. “O que precisamos resolver na América Latina é o problema da corrupção. Isso deve ser evitado.”
Sobre o economista Javier Gerardo Milei, que lidera as pesquisas de intenções de votos para a presidência na Argentina, García afirma que o candidato é um “Bolsonaro potencializado”, em referência ao ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, mas defende uma mudança em relação ao governo de Alberto Fernandez. “A Argentina já foi referência em educação na região. Hoje não é mais. Temos visto uma geração que nem trabalha nem estuda, com um presidente que não acredita na meritocracia e que não crê em planos econômicos. É preciso haver uma mudança”, opina ele. “A Argentina é muito rica. Há cerca de 400 bilhões de dólares em reservas da Argentina no exterior. Isso precisa voltar.”
García se anima, no entanto, ao falar da seleção argentina e de seu principal astro: Lionel Messi. Maestro na conquista da Copa do Mundo da FIFA em 2022, Messi hoje joga no Inter Miami, clube dos Estados Unidos. Quanto a isso, García exemplifica bem a idolatria do argentino ao seu ídolo: “Agora, na Argentina, não chamamos mais esse esporte de futebol, e sim de soccer“, brinca.