A preocupação do Banco Central com expectativas desancoradas da inflação
Roberto Campos Neto aponta que politica fiscal, ruídos na transição do BC, riscos geopolíticos e a tragédia no RS pressionam as perspectivas

A inflação corrente no Brasil está comportada, conforme foi possível constatar na última divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas as expectativas estão desancoradas — sendo essa uma das maiores preocupações do Banco Central no momento. A afirmação é do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, durante evento da B3 realizado em São Paulo nesta quinta-feira, 6.
“A parte mais desafiadora são as expectativas de inflação, que têm piorado recorrentemente. É um fator de preocupação e tem muitos ruídos envolvidos: parte fiscal, transição no BC, capacidade de aprovação de medidas no Brasil, riscos geopolíticos no exterior e Rio Grande do Sul, que teve impacto na parte mais curta [das estimativas]”, disse ele durante o evento.
Campos Neto comentou que os últimos dados do IPCA foram positivos, com uma inflação de serviços ligada a atividades intensivas em mão de obra melhor do que o esperado. No entanto, mesmo a inflação implícita também começou a subir, na esteira da piora das expectativas. A isso se somam os efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul, que adiciona incerteza sobre a inflação de alimentos. “O BC reconhece que a inflação está convergindo, mas precisamos apontar as preocupações para frente”, afirmou.
No caso do RS, o presidente do BC destacou que o estado representa 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e 9% da balança comercial, com relevante impacto, portanto, para a atividade do país. Em termos de safra, disse ele, a colheita de arroz já havia sido praticamente encerrada, mas há dúvidas sobre o efeito das chuvas e dos alagamentos na fertilidade do solo e na capacidade de produção para frente.