Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

A posição de Guedes na manobra que derrubou texto da reforma tributária

Ministro nunca foi um entusiasta de uma reforma tributária ampla e encontrou vazão em Lira para instituir nova CPMF e ceifar projeto de opositores

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 13h52 - Publicado em 7 Maio 2021, 11h19

É possível elencar alguns motivos para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, torcesse o nariz para a proposta entregue nesta semana pelo relator da reforma tributária, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), cujo texto foi lido na comissão mista que analisa o tema. São eles questões de divergências técnicas, temores de dificuldades pela frente e até de protagonismo. Durante a leitura do texto, na segunda-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), articulou para derrubar o relatório e abrir caminho para que fosse substituído por uma proposta que agrade o ministro da Economia.

Considerado majoritariamente um bom relatório entre tributaristas, a proposta de Ribeiro perdeu a validade, segundo Lira, por uma questão regimental de excesso de sessões até ser apresentada. A articulação do presidente da Câmara tem a aprovação de Guedes. Os motivos “divergências técnicas” e “temores de dificuldades” são os seguintes: o ministro prefere uma mudança tributária mais focada no lugar de uma reforma ampla, a qual também poderia sofrer mais para ser aprovada, além de exigir uma PEC, que necessitaria de mais votos.

O texto original encaminhado no ano passado pelo Ministério da Economia previa a unificação do PIS e do Cofins, impostos federais, em apenas um, chamado de Contribuição sobre Bens e Serviços, o CBS. Já a proposta apresentada por Aguinaldo Ribeiro prevê a unificação, além dos dois tributos federais, também do IPI, que é outro da União, mais os tributos estadual e municipal ICMS e ISS. O resultado seria batizado de IBS, Imposto sobre Bens e Serviços, na linha da proposta da PEC 45 que tramitava na Câmara, mas que não agradava a Guedes. Dentro do Ministério da Economia, ele citou o temor de que mexer nos impostos federais, estaduais e municipais, como propõe o texto de Ribeiro, poderia causar imbróglios judiciais e trazer mais insegurança jurídica do que atrair investimentos, o objetivo principal de uma simplificação tributária em um país cujo sistema causa temor até em entendidos do assunto. Nos últimos meses, Guedes mal tratava sobre a reforma entre os secretários.

Mas os motivos para Guedes ficar do lado da manobra regimental empreendida por Lira não são exclusivamente técnicos e levam em consideração fatores políticos. Uma reforma tributária ampla, garantem aliados, sempre foi o desejo do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), um defensor da PEC 45, de autoria do economista Bernard Appy e levada ao Congresso inicialmente por Baleia Rossi (MDB-SP). O ministro, por sua vez, briga para executar algo, diga-se, simples, mas polêmico: instituir um imposto sobre transações nos moldes da antiga CPMF como forma de compensar a desoneração da folha de pagamento, algo que poderia fomentar contratações e conter o desemprego. O novo “imposto do cheque” tinha repulsa de Maia. Em Lira, Guedes encontrou alguém que poderia dar vazão à proposta. Ele teme, porém, que a conotação negativa do imposto enterre as discussões “aos 45 minutos do segundo tempo”.

Deputados garantem que Guedes ficou enciumado com a proposta de Ribeiro e de Rossi, e que foi patrocinada desde o início por Maia, os quais poderiam assumir o protagonismo dessa reforma. Lira comprou a briga. Não por convicção. Parlamentares próximos ao emedebista dizem que Lira não entende nada de sistema tributário, mas que fechou questão  com o governo simplesmente por aliança política. Maia, defendem, tinha conhecimentos técnicos — divergentes aos de Guedes — para defender a proposta de Appy. Com a manobra de Lira, surgiu a oportunidade para ganhar força política e redistribuir partes do texto apresentado por Aguinaldo Ribeiro a seus aliados, e dar vazão a uma proposta mais com a cara do governo.

Juntou-se a fome à vontade de comer. Baleia Rossi foi adversário de Lira nas eleições à presidência da Câmara. Guedes uniu suas convicções técnicas aos desejos políticos de Lira para colocarem uma pá de cal no projeto que tramitava na Câmara e substituí-lo por suas propostas, que não dependem de aprovação de emenda constitucional. Guedes pretende unificar o PIS e o Cofins, o qual seria o primeiro momento de uma reforma tributária fatiada em quatro fases. Depois, seria a vez de desonerar a folha de pagamentos e reavivar um imposto nos moldes da CPMF, como forma de financiar uma redução de alíquota para setores como o de serviços. Com a PEC 45 retrocedendo, depois da dissolução da comissão e da articulação de Lira, cresce a possibilidade de que as ideias de Guedes ganhem penetração no Congresso Nacional. Resta saber se o Congresso e mesmo o presidente Jair Bolsonaro serão amistosos a mais uma tentativa de ressuscitar um imposto que taxe transações.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.