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A insensatez da guerra comercial

Nessa disputa seremos todos, em maior ou menor escala, vítimas

Por Redação 25 abr 2025, 06h00

A primeira coisa que me veio à cabeça ao iniciar a escrita deste artigo foi buscar uma só palavra para que eu pudesse adjetivar o que tem sido praticado pelo governo americano desde que o presidente Donald Trump assumiu, em janeiro último. Peço vênia antecipada ao mestre compositor Antonio Carlos Jobim para usar o título de uma de suas lindas composições: Insensatez. Que significa falta de juízo, loucura, falta de bom senso, imprudência, irresponsabilidade, e por aí afora. A Era da Insensatez está apenas começando.

A guerra tarifária iniciada pelo governo americano contra o mundo é algo tão inusitado que jamais passaria pela minha imaginação assistir um dia a tamanha insanidade. Nessa guerra não há nem haverá vencedores, seremos todos, em maior ou menor escala, vítimas de uma recessão econômica, acompanhada de inflação, desabastecimento, desemprego, crises setoriais gravíssimas, com falência de muitas boas empresas ao redor do mundo.

“Há limites, e o mundo legitimamente reage: In Trump We Don’t Trust”

No xadrez geopolítico internacional, o imponente Donald Trump se deparou com a sabedoria milenar e a astúcia negociadora de seu principal rival, a República Popular da China, que deixou o presidente americano falando sozinho e sem qualquer alternativa, que não a de iniciar a retirada das tarifas de inúmeros produtos eletrônicos, inclusive do iPhone, da Apple, que ameaçava suspender sua fabricação na China. Quem conhece o país e a resiliência de seu povo sabe que o presidente Xi Jinping jamais iria ceder às ameaças do governo americano. A China foi também inteligente de retaliar seu oponente proibindo a distribuição e exibição de filmes de Hollywood em seu território, o segundo maior mercado mundial no segmento.

A China procura também atingir seu insensato rival noutro ponto bastante vulnerável. Detentora de mais de 700 bilhões de dólares de títulos de dívida do Federal Reserve, passou a vendê-los maciçamente no mercado secundário, causando um aumento dos juros de quase 1 por cento que resulta no deságio desses papéis, dificultando a rolagem da dívida americana no mercado internacional de capitais e onerando mais ainda o Tesouro americano. Xeque mate!

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Não bastasse isso tudo, a China reage ainda de forma mais aguda, anunciando publicamente a adesão de dezenas de países asiáticos e do Sul global ao seu novo e dinâmico sistema de pagamentos internacionais imediatos, mais eficiente e barato que o SWIFT, de origem americana, que prevalece no mundo financeiro há décadas. Isso implica a redução do uso do dólar como moeda de reserva e de transações internacionais e, portanto, do chamado “privilégio exorbitante” e abusivo do poder dos Estados Unidos por causa da emissão da moeda dominante no mercado internacional. São mais de 6 trilhões de dólares em circulação fora dos Estados Unidos, sem qualquer lastro tangível desde 1972, com valores de até 100 dólares e a inscrição um tanto irônica In God We Trust. A insensatez tem limites, e o mundo ameaçado legitimamente reage: In Trump We Don’t Trust.

Roberto Giannetti da Fonseca é economista especializado na área internacional e empresário

Os textos dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões de VEJA NEGÓCIOS

Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13

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