A dramática resposta do mercado ao ‘boa sorte’ de Meirelles
Bolsa perdeu 1,9 bilhões de reais em fluxo estrangeiro desde a declaração, revertendo o otimismo e trazendo uma postura de cautela aos investidores

O mercado não tem vivenciado dias de otimismo com as recentes sinalizações econômicas do governo eleito. A proposta que prevê um gasto extra-teto de 145 bilhões de reais para o pagamento do Bolsa Família e a expectativa em torno da nomeação da equipe econômica de Lula estão criando um cenário de incertezas no Brasil. Desde a fala de Henrique Meirelles no 10 de novembro, evento que ficou conhecido como o “Boa Sorte Day”, até esta quinta-feira, 8, o fluxo de saída de capital estrangeiro somou 1,9 bilhões de reais, revertendo os ganhos que a bolsa acumulava de entrada internacional desde a vitória de Lula.
A confirmação de um cenário pessimista ficou mais forte após a declaração no evento promovido por um banco, no qual Meirelles, que era cotado para assumir o ministério da Fazenda, levantou questões preocupantes que indicavam que o governo eleito se encaminharia para um mandato mais próximo do que foi realizado durante o governo Dilma, terminando sua fala com “boa sorte a todos”. Para se ter ideia, do pós-eleição de Lula, em 31 de outubro, até aquele dia a bolsa acumulava um ingresso de 4,1 bilhões em fluxo de capital estrangeiro.
“O viés que era positivo com o fim do calendário eleitoral, passa agora para uma postura cautelosa. O sentimento é de que os investidores não vão dar o benefício da dúvida, e vão aguardar mais confirmações e ações, do lado do novo governo, para montar posições mais sólidas e de longo prazo”, diz a corretora Ativa Investimentos por meio do seu relatório “Monitor da Bolsa”.
A reversão do fluxo mostra uma mudança de postura no mercado que estava otimista com as promessa de Lula durante a campanha eleitoral, de garantir “credibilidade, previsibilidade e estabilidade”. A vitória de Lula no dia 30 de outubro, segundo turno das eleições, representava naquele momento uma vitória também para o mercado, que ansiava por um comprometimento com a responsabilidade fiscal após a perda de credibilidade com o governo Jair Bolsonaro. Mas as sinalizações do governo eleito passaram as frustrar essas expectativas. A demora na indicação dos nomes que irão compor a equipe econômica, os ataques ao mercado financeiro, a proposta de ampliar os gastos via PEC e as críticas ao teto de gastos colocaram ainda mais pressão nos riscos ficais do país.
No relatório, a corretora mostra ainda que essas questões trazem pressões sobre a situação fiscal do país, com riscos significativos para a relação Dívida/PIB e a inflação que, consequentemente, pesa sobre o preço dos ativos ao trazer dúvidas sobre o crescimento econômico e a possibilidade de redução da Selic em 2023, o que antes era dado como certo. “O Brasil vinha ganhando espaço nas carteiras dos gestores internacionais, por seu momento relativamente melhor do que os outros países. Essa visão de que o Brasil está melhor que seus pares, está sendo colocada em cheque com os desdobramentos recentes”, diz em relatório enviado ao mercado.