A decisão da Europa endossada por Trump que pode deixar o combustível brasileiro mais caro
UE anuncia novo pacote de sanções à Rússia após reunião com Trump; nos EUA, projeto republicano prevê tarifas a países que importam petróleo russo

Na segunda-feira, 19, o líder do conservador CDU alemão, Friedrich Merz, publicou uma frase enigmática, mas carregada de implicações geopolíticas: “A Europa aumentará a pressão sobre Moscou por meio de sanções. Foi isso que acordamos com o presidente Donald Trump após a sua conversa com Putin.” O que parecia apenas mais uma declaração pós-encontro político entre líderes acabou sendo o prenúncio de um endurecimento concreto. Menos de 24 horas depois, a União Europeia anunciou seu 17º pacote de sanções contra a Rússia.
O alvo é o comércio de petróleo — em especial, a chamada “frota sombra” de petroleiros que dribla as restrições do Ocidente para continuar abastecendo países como China, Índia e, com crescente destaque, o Brasil. Desde que a invasão da Ucrânia transformou os barris russos em bens tóxicos para a maioria das economias ocidentais, o petróleo de Moscou encontrou refúgio entre parceiros geopolíticos menos escrupulosos, dispostos a ignorar as diretrizes da OTAN em favor do desconto oferecido pelos russos.
Para o Brasil, cuja demanda por diesel supera em 25% a capacidade nacional de refino, a oferta russa tornou-se um alívio bem-vindo — ainda que politicamente constrangedor. Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), nada menos que 63,6% do diesel importado pelo Brasil em 2024 veio da Rússia. No ano anterior, o percentual havia sido de 50,4%. A Petrobras se mantém à margem, preferindo origens como os EUA e o Oriente Médio, mas o setor privado – especialmente empresas menores e tradings independentes – mergulhou de cabeça na oferta russa.
O novo pacote europeu inclui medidas direcionadas ao comércio clandestino de petróleo russo – embarcações muitas vezes sem bandeira clara, sem seguro ou com registros forjados em paraísos fiscais marítimos. Responsáveis por escoar cerca de 85% da produção russa desde 2022, esses navios tornam-se o elo mais vulnerável de uma cadeia que depende do anonimato e da omissão das potências marítimas para funcionar.
Uma proposta em tramitação no Congresso americano, apresentada pelo senador republicano Lindsey Graham, prevê tarifas punitivas de até 500% sobre países que continuarem importando petróleo russo a preços subsidiados. Com a provável bênção de Donald Trump, a medida tem potencial para transformar parceiros comerciais em alvos tarifários. A justificativa é que esses acordos fortalecem financeiramente Moscou e minam os esforços do Ocidente para isolar o regime de Vladimir Putin. Do outro lado do Atlântico, o tom também endureceu. “Quanto mais tempo a Rússia continuar em guerra, mais dura será a nossa resposta”, afirmou a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas.
As implicações desse cerco vão além da geopolítica e podem chegar às bombas de combustível brasileiras. O diesel russo é hoje o mais barato do mercado global. Qualquer interrupção no fluxo — seja por novas sanções, seja por dificuldades logísticas — forçará os importadores brasileiros a buscar alternativas mais caras. Embora a Petrobras não importe dos russos, ela é responsável por apenas um terço das compras externas, o restante recai sobre empresas privadas, cuja margem de manobra está prestes a encolher. A equação é simples: menos acesso ao diesel russo significa mais custos de importação — e mais pressão inflacionária. Um custo adicional que, inevitavelmente, será repassado ao consumidor final.
A recente visita do presidente Lula a Moscou não passou despercebida no Ocidente. Ao justificar a viagem com o argumento de que a Rússia é um “bom parceiro comercial”, Lula confirmou o dilema que muitos países emergentes enfrentam: manter os custos internos sob controle sem se tornar alvo da política externa americana ou europeia.