A caça às bruxas do Traders Club, depois de vídeo vazado
Cofundador da empresa de educação financeira, Rafael Ferri, teria, segundo fontes, ameaçado agentes do mercado por vídeo vazado
A plataforma de educação financeira e de investimentos TradersClub, mais conhecida pelas iniciais TC, sofreu um duro golpe em 28 de junho, quando um vídeo com graves acusações referentes à empresa começou a circular em grupos de redes sociais formados por investidores. Além de recuperar processos do passado de Rafael Ferri, cofundador e a figura mais conhecida do TC, a produção apresentada por uma atriz com o rosto pintado de palhaço acusa a empresa de estar manipulando o mercado financeiro e de formar bolhas em determinados papéis de baixa liquidez na bolsa, além até de promover uma cultura de assédio. Mesmo que a empresa tenha negado a veracidade das denúncias, seus papéis acumulam queda de mais de 30% nos últimos dias.
Com o objetivo de calúnia ou não, a disseminação do vídeo gerou um clima de apreensão nos corredores da empresa – a ponto de Ferri levantar uma lista de possíveis detratores e, de acordo com fontes, ligar para ameaçar alguns deles. Segundo um operador com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, tão logo o vídeo começou a circular, ele o recebeu e compartilhou com amigos em grupos com centenas de investidores. Pouco tempo depois, recebeu uma ligação e ouviu ameaças de Ferri. “Ele começou a me ameaçar no telefone. Disse que sabia que eu teria feito o vídeo e que ele iria me denunciar para a Polícia Federal”, afirmou o investidor, que prefere não se identificar. “E não foi eu que fiz o vídeo. Eu não tenho nem dinheiro nem energia para fazer um material daquele.”
Formado em administração de empresas, Ferri foi um dos investidores por trás da chamada Bolha do Alicate, caso de enorme repercussão que resultou na primeira condenação por manipulação do mercado de capitais do país. Após ter sido impedido de operar pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ser condenado pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul a três anos e nove meses de reclusão e a pagar uma multa de 2,3 milhões de reais, Ferri foi absolvido das acusações. Segundo fontes do mercado, o investidor se orgulha de ter construído ligações com figurões da CVM durante o processo envolvendo a Bolha do Alicate. “Ele fala aos quatro ventos que tem muita influência na CVM, porque desenvolveu relacionamentos que podem abafar qualquer denúncia que venha a ter em nome dele”, afirma uma fonte.
Dentro do TC, chegou-se à conclusão, ao se analisar o conteúdo do vídeo, produzido de maneira profissional, com uso de diversas câmeras, edição e estrutura de estúdio para gravação, de que não se tratava de algo feito por amadores. E a suspeita recaiu sobre concorrentes. Um vídeo divulgado no perfil de Ferri no Instagram, no último domingo, dia 3, cita, sem mencionar nomes, uma casa de análise que, em 26 de outubro de 2021, recomendou uma posição “short” (estratégia pela qual se aposta na desvalorização) dos papéis do TC. No seu vídeo, Ferri diz que “nenhum gestor profissional racionalmente carrega uma posição vendida numa companhia, numa small cap, com liquidez reduzida, pagando 5% ao mês por tanto tempo”. “Há algum motivo para carregar uma posição perdedora, pagando taxas absurdas, por tanto tempo”, insinua ele que haveria interesse concorrencial no movimento, e diz ainda que a tal interessada na queda das ações de sua empresa já estaria perdendo 100 milhões de reais com esse investimento.
O empresário alega que há tentativas de promover “ataques sujos e sórdidos” para “denegrir e destruir o TC” e aponta que a empresa estaria sendo vítima de “narrativas inventadas” por meio de “notícias falsas para derrubar a cotação” de suas ações. E também que, antes da divulgação do vídeo, sete denúncias foram feitas contra o TC na CVM, mas que não prosperaram.
Em nota, a TC respondeu à reportagem que “o vídeo compartilhado contém acusações absolutamente falsas” e que “não há qualquer investigação ou processo contra o TC na CVM”, além de reforçar que “repudia veementemente qualquer conduta que não se baseie em valores éticos” e que “se coloca à disposição para colaborar com os órgãos responsáveis”. A empresa ainda afirmou que está “adotando medidas legais cabíveis para identificação e responsabilização dos autores do vídeo” e que irá compartilhar os resultados dessas investigações com as autoridades.