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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A economia em tempos de Centrão

Quem quiser saber da política econômica do governo Bolsonaro deve consultar Arthur Lira, não Paulo Guedes

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 abr 2021, 12h46

O impasse sobre o orçamento de 2021 terminou como previsto: o Centrão impôs uma manobra para burlar a Lei do Teto de Gastos, o ministro Paulo Guedes sofreu derrota acachapante, o déficit fiscal primário deve passar dos R$ 300 bilhões e o mercado financeiro, sempre tão sensível a todos esses assuntos, fingiu que não viu. Ter a política econômica decidida pelo Centrão virou o “novo normal”.

Meses atrás ainda era possível achar um ou outro desavisado na Faria Lima capaz de acreditar que 2021 seria a oportunidade para reformas constitucionais, privatizações e um mercado baseado em juros baixos e câmbio estável. Alguns até acreditavam em vacinação em massa e metade da população imunizada até o meio do ano. Melhor não apostar nos investimentos dessa turma.

É possível que ainda saia uma capitalização da Eletrobras, ou algum avanço na privatização dos Correios, ou até uma reforminha aguada na contratação de futuros servidores públicos, mas é xepa. A agenda liberal que o mercado tomou como pretexto para apoiar Jair Bolsonaro em 2018 se extinguiu. Quem quiser saber da política econômica do governo Bolsonaro deve consultar Arthur Lira, não Paulo Guedes.

A nova realidade é de um mercado que toma por verdadeira as promessas de não intervenção nos preços da Petrobras do general que foi nomeado por Bolsonaro como presidente da companhia justamente para intervir nesses mesmos preços. Não por ingenuinidade, mas por reallismo. As ações da companhia estavam abaixo do valor e o mercado ainda tem poder para pressionar o general não pesar a mão demais. É um mercado que vai continuar falando bem de Paulo Guedes em público não porque acha que o ministro ainda tenha influência sobre Bolsonaro, mas por temer que o substituto seja pior. A turma caiu na real.

É um realismo passageiro. No ano que vem, quando as candidaturas a presidente estiverem postas, o mercado irá _como tem feito desde 1998_ fazer terrorismo para impor uma nova agenda de reformas aos candidatos. O dólar ficará ainda mais volátil, IPOs serão cancelados e vai se falar de risco-Bolsonaro para cá e risco-Lula para lá. Mas depois de assistirem um liberal como Paulo Guedes virar um ministro decorativo, fica claro que o mercado grita, esperneia, mas se adapta. Ninguém ganha dinheiro ficando em frente da boiada.

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