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Lula, o “empresário”, não compreende como a “empresa” funciona

O presidente segue se irritando com perguntas sobre o deficit fiscal — e quanto mais se irrita, mais o deficit sobe

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 14h58 - Publicado em 8 Maio 2024, 10h46

“Eu às vezes fico um pouco irritado com esse negócio de déficit fiscal, se vai ser zero, se não vai ser zero. Essa é uma discussão que nenhum país do mundo faz”, afirmou Lula em programa da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Nem na EBC, veículo que controla, Lula escapa de se irritar com a questão fiscal. Mas é falso que nenhum país do mundo discuta equilíbrio fiscal. Pelo contrário, o assunto é tema de discussão em todo lugar.

O que não acontece em nenhum país do mundo é presidente se irritar quando lhe perguntam a respeito. Até porque os outros presidentes sabem que existe limite para a gastança.

“Ninguém me fala em responsabilidade, porque essa eu tenho demais. Eu não vou gastar, nunca, mais do que eu preciso gastar”, prosseguiu Lula.

Em seu primeiro governo, Lula gastou muito mais do que precisava — e gastou muito mal: para dar uns poucos exemplos, iniciou a construção das refinarias de Abreu e Lima e do Comperj, comprou a refinaria de Pasadena (a “ruivinha”) e criou a Sete Brasil. Eram todos empreendimentos desnecessários, que se mostraram economicamente ruinosos — sem falar das acusações de corrupção. E Lula quer fazer tudo de novo.

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“Mas se eu tiver que gastar para construir um ativo novo [como Abreu e Lima?], eu estou fazendo que nem o empresário que tem um mercado promissor.”

Nem o Brasil é uma empresa, nem o presidente é empresário, nem a ideia de Estado-empresário é boa, nem Lula tem a competência necessária. Empresários sabem que construir ativo não é bom em si (de certo no ativo, só o passivo que ele traz), o que é bom é a rentabilidade que o investimento pode trazer. Mas nessa Lula não se mostra interessado.

Enquanto diz que nunca vai gastar mais do que precisa, Lula afrouxa as regras fiscais, exige a redução do juro (para poder gastar mais), aumenta impostos e se recusa a cortar gastos. E reclama dos que reclamam.

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Como o governo segue gastando mais do que arrecada, tem que contrair dívida nova para cumprir suas obrigações. Junto com a dívida nova, vêm os juros sobre ela, isto é, mais despesa — e o rombo aumenta. Junto com o rombo, aumentam o risco e a pressão inflacionária… e o juro cai mais devagar. Se o juro não cai, a despesa financeira não cai, a economia sofre, a arrecadação não decola e o déficit do governo não melhora. É um círculo vicioso.

Qualquer cidadão sabe que se não mantiver seu orçamento doméstico em ordem, acaba dando pau.

Mas Lula, o empresário, não consegue entender que se o orçamento não estiver sob controle, a empresa quebra.

(Por Ricardo Rangel em 08/05/2024)

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