Quem olha com atenção o mercado já reparou que a antiga figura do corretor de imóveis de plantão em frente a uma casa, sentado numa cadeira de plástico e com ar de derrota estampado no rosto, é cada vez mais rara por aí. Essas pessoas foram substituídas por profissionais mais qualificados e que atuam na prática quase como consultores de investimentos, tanto na compra quanto na venda. Com o impacto das novas tecnologias chegando a esse setor, em especial a da inteligência artificial, será que um dia esse trabalho será feito por robôs? Em outras palavras, o ofício de corretor de imóveis pode ser um dos que correm o risco de entrar para a lista de profissões em extinção?
O impacto da IA sobre o mercado de trabalho em várias áreas foi um dos temas de um disputado painel da 26ª edição do South by Southwest, mais conhecido como SXSW. A mais recente edição acontece em Austin, no Texas, de 10 a 19 de março. Ele se mantém como um dos eventos mais importantes da atualidade, reunindo pessoas do mundo inteiro durante dez dias para debater temas como inovação em mídia, comportamento e consumo. Sua proposta é abrir espaço para grandes pensadores, empresas e estudiosos compartilharem suas ideias.
Na mais recente edição, uma das palestras mais esperadas foi a da futurista Amy Webb, CEO do Instituto Future Today, dos Estados Unidos. Todos estavam ansiosos pelo assunto mais debatido dentro e fora do SXSW: o que esperar da inteligência artificial e de seus impactos nos diversos mercados e, principalmente, na empregabilidade. Amy Webb apresentou uma amostra do seu relatório com previsões sobre várias áreas e sugestões para enfrentar os cenários. Apesar disso, na verdade, restaram mais perguntas que respostas para essa ansiedade acerca do tema.
Uma das crenças da especialista é que não estamos preparados para a velocidade da mudança que a evolução das ferramentas de inteligência artificial está promovento. Uma prova disso é o CHAT GPT, sistema que “conversa” e resolve muitas demandas de seus usuários. Em vez de banir essas tecnologias do seu cotidiano ou usar a ferramenta para substituir o esforço humano, Webb sugere que as empresas encontrem meios de trabalhar junto com esse tipo de avanço.
Sobre a empregabilidade e o medo de que os robôs substituam pessoas, ela trouxe em sua apresentação uma frase forte: “Não vamos perder nossos empregos, vamos perder nossas descrições de empregos”. Talvez esse seja o norte que deva guiar os profissionais para se adaptarem (e sobreviverem) a essas mudanças que estão por vir.
E como tudo isso impacta o mercado imobiliário aqui no Brasil? Acho que o maior impacto está diretamente ligado ao trabalho do corretor de imóveis. Certamente as pessoas questionam hoje a necessidade do papel do intermediador dentro desse novo mundo, uma realidade onde todas as respostas se dão através de um click e na qual a tecnologia digital facilitou enormemente a burocracia.
Pensando de uma forma bastante simplória, de fato não parece mais haver necessidade em ter uma pessoa para intermediar um processo que pode ser feito pela internet. Ocorre que a compra ou venda de um imóvel não é um fato corriqueiro. Na maioria das vezes, esse processo exige muitos cuidados jurídicos, comerciais e está fortemente ligado a decisões emocionais — afinal, muitas vezes, trata-se da aquisição mais importante da vida das pessoas em momentos de mudança significativos para elas, seja um casamento, mudança de cidade ou a chegada de um filho. Essa jornada da compra de um imóvel envolve a presença humana do profissional como fator decisivo para sua conclusão com segurança.
Diante disso, cada vez mais, o que os corretores devem estar atentos é para se antecipar às mudanças, observar as novas tendências do mercado e ver a tecnologia como aliada. É importante que o profissional se especialize, mostre a relevância de sua presença e não tenha medo que vai perder o seu trabalho para um aplicativo ou um robô e, sim, ter a segurança, como Amy Webb apresentou no SXSW, que terá novos cenários para serem explorados.