
Uma nova tendência começa a ganhar força no mercado imobiliário brasileiro: a adaptação de imóveis para funcionarem como estúdios de gravação de podcasts, de vídeo-aulas e ou até mesmo como cenários “instagramáveis”. Com o crescimento acelerado da economia da influência, chamada pelos especialistas de “creator economy” e da produção de conteúdo digital, surge uma demanda real e crescente por espaços que unam boa estética, isolamento acústico e estrutura técnica. Isso está provocando uma revolução no mercado e há quem acredite que irá mudar a forma de projetar, comprar, alugar ou reformar um imóvel urbano.
Um dos motores dessa mudança é o boom de podcasts no país. O Brasil se destaca nesse cenário como o país que mais consome esse tipo de produto no mundo. De acordo com uma pesquisa recente da Statista Consumer Insights, 51% dos brasileiros ouvem podcasts pelo menos ocasionalmente. Depois do Brasil, estão países como Espanha (45%), Estados Unidos (32%) e Coreia do Sul (18%). Essa paixão nacional por conteúdos em áudio, aliada ao boom das redes sociais visuais, como Instagram e TikTok, cria um novo nicho de mercado: imóveis que se transformam em verdadeiros estúdios multimídia.
Endereços comerciais e até residenciais estão sendo adaptados, ou mesmo concebidos desde o início, para atender essa demanda. Salas com tratamento acústico, iluminação natural ou controlada, fundos neutros ou cenográficos, tomadas estrategicamente posicionadas e acesso à internet de alta velocidade tornam-se diferenciais de mercado. Corretores e incorporadoras passam a enxergar esses elementos como valor agregado. Em alguns empreendimentos, estúdios profissionais de vídeo e podcast já são oferecidos como amenidades compartilhadas, da mesma forma que academia ou coworking. Esse tipo de solução agrega valor ao imóvel, atrai um público mais jovem e conectado, e amplia o escopo de comercialização dos projetos. O corretor que entende essa mudança sai na frente.
É o caso do condomínio Elos, da Carvalho Hosken, localizado na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ali foi montado um pequeno estúdio para que os moradores das 680 unidades possam aproveitar e realizar suas gravações. O espaço foi projetado ao lado da sala de reuniões e conta com ring lights e microfones. Para usar, o morador faz o procedimento de praxe: reserva um horário na administração.
Os empreendedores que adaptam os imóveis fazem disso um negócio lucrativo. Os números são expressivos e comprovam a viabilidade dessa tendência. Um estúdio de gravação pode render mais de R$ 20 mil por mês para apenas um cliente, com locações pontuais ou recorrentes. Também há opções de aluguel por hora, girando em torno de R$ 80 a R$ 150, dependendo da estrutura oferecida. Esses valores atraem investidores que buscam imóveis com retorno financeiro mais dinâmico e alinhado ao consumo digital.
A administradora Heloiza Brasil é uma dessas clientes que usam esse serviço. “Meu apartamento não tem um escritório reservado. Além disso, eu não sei fazer essa parte de produção. Pensei em alugar uma sala comercial para gravar minhas vídeo-aulas, mas o aluguel de estúdio faz muito mais sentido. Além do espaço decorado, a equipe capta as imagens e edita, com qualidade profissional, agregando mais valor ao meu conteúdo”, explica.
Curiosamente, nem todo usuário desses estúdios é, de fato, um podcaster tradicional. Há uma crescente procura por espaços que simulem a gravação de podcasts verdadeiros, apenas para gerar “cortes”, os famosos vídeos curtos, com estética profissional, usados como iscas para redes sociais. Pessoas físicas, pequenos negócios, influenciadores iniciantes e até candidatos políticos utilizam esse formato para aumentar sua autoridade online.
Além disso, para os imóveis já existentes, essa adaptação também é promissora. Um pequeno investimento em acústica, mobiliário funcional e equipamentos básicos pode tornar salas comerciais subutilizadas em fontes de renda recorrente ou mesmo um atrativo para seus moradores. Um antigo salão de festas, inutilizado na maioria das vezes pode dar espaço para um moderno estúdio, por exemplo.
Recentemente, um grupo de empresários levou essa ideia a um outro nível. Em um espaço de mais de 14 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, os empreendedores montaram um campus de educação voltado para os criadores de conteúdo. Chamado de Communit Creator Academy, ele é uma mistura de universidade com Projac e conta com mais de 200 cenários e estúdios para capacitação e formação de pessoas para criarem conteúdo com mais profissionalismo e independência.
O mercado imobiliário, portanto, vive um momento de virada, em que acompanhar os movimentos culturais e digitais se torna essencial. Adaptar imóveis para estúdios de gravação não é apenas uma moda passageira: é uma resposta inteligente e lucrativa às transformações na forma como as pessoas se comunicam, produzem e consomem conteúdo. Quem perceber isso primeiro, seja proprietário, corretor ou incorporador, certamente sairá na frente.