As pechinchas do mercado imobiliário de Buenos Aires com a crise argentina
Os preços das propriedades despencaram, mesmo em bairros mais nobres da capital do país
Estive recentemente em Buenos Aires e é impressionante ver como o país consegue se manter com uma moeda tão desvalorizada. A impressão é a de existir duas Argentinas, sendo que a dos turistas é uma festa. Os visitantes se esbaldam com a gastronomia e as compras a preços bem reduzidos. Enquanto isso, a Argentina dos cidadãos de lá parece que tem as cores dramáticas de um tango. Boa parte de quem vive a crise do país no seu dia a dia precisa fazer contas para conseguir acabar o mês. As eleições, que foram para a disputa do segundo turno, em 19 de novembro, sempre trazem alguma esperança de mudança, mas a realidade é que nenhum dos dois finalistas (Sergio Massa e Javier Milei) parece ter propostas consistentes para tirar a nação do atoleiro.
Uma das coisas que chamam atenção em Buenos Aires é a quantidade de imóveis à venda em regiões nobres. A crise para os argentinos transformou essa área em um terreno fértil de oportunidades para quem deseja investir por lá. E isso já está acontecendo. Há um crescente número de estrangeiros aproveitando os preços mais baixos que o normal das propriedades para fazer bons negócios. Segundo uma pesquisa da rede de imobiliárias Remax, que tem presença em diversos países por meio de suas franquias, duas de cada dez consultas sobre compra de imóveis em Buenos Aires são feitas atualmente por pessoas fora da Argentina. Os russos são os mais ativos no circuito e isso se dá, principalmente, devido à guerra com a Ucrânia. O conflito que já dura quase dois anos levou muitos compatriotas de Putin a procurar outros países para morar.
Para o estrangeiro que tem reservas para investir no mercado faz sentido hoje adquirir um imóvel na capital argentina. Os preços estão muito vantajosos e dificilmente vão cair ainda mais. De acordo com o levantamento da Remax, o mercado sofreu uma queda de 50% do valor do metro quadrado de 2018 para cá. Com isso, a probabilidade maior é de valorização num futuro próximo, no vácuo daquela lufada de otimismo que sempre varre um país após uma eleição presidencial. Com o equivalente a 600 000 reais é possível comprar um apartamento em Las Cañitas, um dos bairros mais valorizados da região. Por metade desse valor, dá para se tornar proprietário de um apartamento em Palermo.
Já tem um tempo que a economia argentina é dolarizada e hoje é ainda mais flexível. Quem viaja para lá tem a opção de pagar na moeda local, em peso argentino, em dólar e até mesmo em real. Além disso, existe no país o mercado do dólar paralelo. Caso ele seja aceito nas transações imobiliárias, os valores dos imóveis ficam ainda menores, pois a conversão valoriza ainda mais a moeda norte-americana.
Em função da desvalorização da sua moeda local e da manutenção do destino com grande oferta turística, com uma lista grande de atrativos para visitar e se divertir ao longo do seu território, o mercado imobiliário local é muito rico para locação de curta duração, no estilo Airbnb. Por isso investir em um imóvel voltado para renda pode ser uma ótima opção. Comprar um imóvel para moradia também não é má ideia. Afinal, a pandemia mostrou ao mundo que trabalhar de forma remota é uma possibilidade para muitos profissionais.
Quem não se beneficia com tudo isso são os próprios argentinos. Sem acesso a crédito habitacional, eles acabam precisando alugar um imóvel, o que se tornou uma missão praticamente impossível para quem quer pagar em pesos argentinos, já que os proprietários preferem oferecer seus imóveis por locações em dólar e em curta temporada para aproveitar as variações de aluguéis e conseguir lucrar o máximo possível.
Azar dos argentinos, sorte para os estrangeiros com capacidade para investir no mercado imobiliário de lá.