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Real Estate

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Grandes negócios e tendências do mercado imobiliário. Renata Firpo é publicitária, consultora imobiliária e advogada pós-graduada em Direito imobiliário
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A revolução da agenda verde começa a tomar conta do mercado imobiliário

Práticas ESG estão sendo adotadas por muitas empresas do setor

Por Renata Firpo
Atualizado em 16 Maio 2024, 00h01 - Publicado em 8 jun 2023, 09h26

No rádio do meu carro, um professor dizia que hoje é mandatório que as empresas tenham práticas sustentáveis em prol da própria sobrevivência e falava sobre ESG. Chego ao meu destino (uma reunião em um prédio comercial) e, na tela dentro do elevador, a propaganda de uma universidade oferecendo o seu novo curso em ESG. Começa a minha reunião e, na mesa da sala, um display surge citando pilares do ESG. Bom, não me restam dúvidas de que essa sigla não é apenas modismo ou mera tendência. É uma realidade das empresas como resposta aos desafios da sociedade contemporânea.

Mas, afinal, o que significam essas três letrinhas e por que tanta importância? A sigla é a inicial de três palavras em inglês Environmental, Social and Governance ou, em português, ASG – Ambiental, Social e Governança, que diz respeito à integração da geração de valor econômico aliado à preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança corporativa por parte das empresas. Na prática, é uma forma de a empresa mostrar responsabilidade e comprometimento com o mercado em que atua, por meio de práticas e políticas internas e externas com os seus consumidores, fornecedores, colaboradores e investidores.

O mercado imobiliário tem em sua essência um espaço enorme para pôr em prática uma agenda ESG, pois a incorporação de um empreendimento envolve uma série de insumos que impactam diretamente o meio ambiente, o lugar em que o prédio será implantado demanda uma atenção com os vizinhos, além do envolvimento de uma vasta e heterogênea cadeia de mão de obra, formada pelos colaboradores e terceirizados.

Uma das empresas do setor que estão se mexendo nessa direção é a Incorporadora Tegra. Com atenção à necessidade de implementar ações necessárias para atenuar os impactos de suas operações, em 2016 a companhia, a partir de uma decisão de sua diretoria, iniciou uma série de atividades internas voltadas aos seus funcionários e ao meio ambiente que acabou se desenvolvendo para um conjunto de práticas que hoje entram no rol da chamada agenda ESG, colocando a incorporadora como umas das pioneiras nesse movimento.

Angel Ibañez, diretor de suprimentos e gestor dessa iniciativa verde na empresa, é um entusiasta dessa frente que a Tegra abraçou e me contou sobre os caminhos que a empresa seguiu para hoje ter conquistado certificações e selos internacionais, validando a consciência sobre o seu papel enquanto empregadora e agente social. A estratégia da empresa está voltada para cumprir quatro objetivos, todos dentro do ESG: gerar impacto positivo na sociedade, zerar balanço líquido na emissão de carbono, promover negócios transparentes e impulsionar uma economia circular. Com a auditoria de seus relatórios e inventários de emissão de carbono, a incorporadora conseguiu um grande reconhecimento e, somando com a conquista da certificação francesa AQUA, que credita a eficiência dos empreendimentos, a empresa ocupa hoje uma posição difícil de ser alcançada pela concorrência.

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Difícil, mas não impossível. O primeiro passo para fazer parte dessa vanguarda é ter a consciência do corpo diretivo. Querer se tornar uma empresa sustentável é, antes de tudo, uma mudança cultural interna. A partir daí, deve-se fazer um diagnóstico preliminar básico para saber em que nível de indicadores a empresa se encontra, até mesmo de forma gratuita, preenchendo um dos muitos relatórios à disposição na internet, como o do Instituto Ethos. Esse diagnóstico primário pode trazer boas surpresas, como a apresentação de algumas atividades que a empresa já faz nesse sentido e também um norte para desenhar um plano de sustentabilidade e de implantação de práticas de governança.

Com a vontade na cabeça e o plano em mãos, é importante o envolvimento de todos os funcionários, e essa talvez seja a maior barreira inicial, já que as mudanças nem sempre costumam ser recebidas com bons olhos, principalmente se vier com mais trabalho, como são as atividades de monitoria, investigação e gestão das pautas ESG. Por isso é importante que, junto com a implantação de uma nova cultura corporativa, venha também uma série de conversas e treinamentos que envolvam a equipe para enxergar propósito nessa jornada, além de traçar impactos diretos no salário e bônus anuais para quem cumprir as metas dos programas.

Nunca é tarde para adotar essa agenda. A prova disso é a intenção do incansável e visionário empresário francês Alexandre Allard de entrar nesse universo sustentável. Ele, que chegou ao Brasil colocando em pé um dos projetos mais arrojados e emblemáticos do mercado imobiliário do país, o Cidade Matarazzo, em 2022 – uma ilha de sofisticação no coração da cidade de São Paulo, com restaurantes estrelados, uma torre residencial luxuosa e a única bandeira hoteleira Rosewood da América Latina –, planeja para um futuro breve a criação da primeira incorporadora com selo verde voltada para o mercado de luxo no país. Mesmo com o sucesso do Cidade Matarazzo, suas ambições de conquistar mais espaço com projetos inovadores continuam, já que acredita que ainda não tem quem faça nada de fato consistente nesse segmento específico e rentável. E, se existe esse espaço disponível, ele vai conquistar.

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Com um discurso empolgante, de inclusão social e acolhimento, Allard pretende uma revolução verde, restaurando a natureza em meio à selva de pedra dos principais pontos da capital paulista. O seu olhar de empresário cosmopolita, que circula entre as maiores discussões empresariais do mundo, talvez enxergue o que os investidores brasileiros ainda não conseguiram: a responsabilidade com o meio ambiente e os impactos futuros como pilares básicos de todas as organizações. A inquietude natural e contagiante de Allard combina com a urgência que o mundo pede para essa conscientização.

Toda essa agenda ESG demanda energia e investimento para implementar as ações propostas. E fica o questionamento: será que tanto esforço é recompensado em economia administrativa e valorização do consumidor final ou é apenas um novo instrumento de marketing — em outros termos, para usar uma expressão popular, é um negócio para inglês ver? Ibañez afirma que não. O ganho na economia é grande com a redução de energia, insumos e qualidade da mão de obra. Além disso, o mercado tem acompanhado esse movimento e toda a cadeia caminha junto para formar um grande ciclo sustentável.

Os bancos Itaú e Bradesco passaram a oferecer linhas de crédito verde, com redução de taxas para financiar obras de incorporadoras que tenham empreendimentos dentro da agenda ESG. O ganho na diferença dessas taxas acaba pagando justamente as ações dessa agenda e, nessa balança onde um sustenta o outro, vão sendo construídas relações com impactos em toda a sociedade. O próprio Itaú anunciou recentemente desconto nas taxas de financiamento para pessoas físicas que optarem por comprar imóveis de empreendimentos sustentáveis. O consumidor final pode até não escolher o apartamento pela energia renovável ou por ter sido feito com menos emissão de carbono, mas acaba engordando o movimento sustentável com esses incentivos. E quem já tem sua casa própria pode se beneficiar também, pois cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já aderiram ao programa do IPTU verde, com desconto aos condomínios que adotam ações ambientalmente sustentáveis.

Assumir uma pauta ESG faz parte de uma agenda global. Integrar suas práticas aos negócios vai além de plantar uma árvore: significa dar oportunidades para as pessoas, auxiliar o desenvolvimento dos parceiros, apoiar projetos de melhoria da vida em sociedade e fazer uso responsável dos recursos naturais com a adoção de uma governança estruturada e conduta ética e transparente.

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