A apimentada ciranda imobiliária no paraíso de luxo do litoral da Bahia
Demanda aquecida de negócios elevou a cotação de casas de praia a até 35 milhões de reais no local
Vilarejo que pertence ao município de Porto Seguro, na Bahia, Trancoso era um reduto hippie até os anos 80. Os índios que viviam na região na época do descobrimento do Brasil jamais imaginariam que o pedaço seria redescoberto muito tempo depois por essa turma da paz e amor. Algumas décadas depois, no entanto, o reduto de praias maravilhosas e um clima de verão o ano inteiro entrou na rota de turistas endinheirados e de investidores graúdos.
O movimento foi puxado por milionários e celebridades, com destaque para os paulistanos que ali aportaram no início dos anos 2000, quando foi lançado o condomínio Terravista, hoje um complexo de casas com um dos campos de golfe mais lindos do mundo e um aeroporto para jatos particulares. A partir do lançamento desse projeto, São Paulo conheceu Trancoso e, desde então, a cara do vilarejo mudou. Do passado dos jesuítas, só se mantiveram preservadas a beleza natural e a igrejinha São João Batista datada de 1656 — no mais, tudo mudou para atender a esses novos moradores.
Mesmo o famoso quadrado, como é chamada a charmosa vilinha de casas coloridas com as fachadas tombadas pelo IPHAN se transformou. Os moradores saíram de lá e os endereços abrigam hoje comércios de altíssimo luxo que têm seus aluguéis disputados por marcas nacionais e internacionais, como joalherias e restaurantes que fazem fila de espera para ocupar os espaços, que têm valor médio de aluguel de 40 000 reais ao mês.
A apimentada ciranda imobiliária de Trancoso e arredores está longe de ser uma bolha financeira prestes a estourar. Os negócios continuam em alta, e prejuízos são mais raros por lá do que um naipe de violinos em meio a um show de axé. Muitos proprietários deixam seu imóvel para locação na maior parte do ano. Na alta temporada, um período de locação por dez dias já banca todo o custo anual de manutenção de uma casa. Ou seja, daí em diante, é só lucro. A demanda faz a alegria das imobiliárias locais, como a Bahia Homes, de Raul Street. Em 1994, ele trocou a agenda do mercado financeiro da Faria Lima para comercializar as casas na região. Sua imobiliária faz, em média, 500 locações de residências por ano e esses endereços têm seus valores triplicados em períodos como o do réveillon. Nessa época, um endereço pé na areia com oito suítes chega a custar 1,3 milhão de reais por dez dias de locação — e há também fila de espera de gente interessada.
Assim como aconteceu em todo o Brasil, quando nos anos de pandemia os valores dos imóveis de segunda residência foram multiplicados devido à grande demanda, não foi diferente em Trancoso. Mas ninguém do mercado imobiliário local gosta de falar em inflação. Preferem argumentar que, diante da qualidade de serviços oferecidos, além da beleza e da exclusividade da região, o correto seria dizer que os preços foram ajustados, tornando-se agora mais competitivos em comparação aos concorrentes Brasil afora.
Foi um belo ajuste, diga-se! Em Itapororoca, uma das praias mais reservadas de Trancoso, há casas cotadas a 35 milhões de reais. Nesse mesmo pedaço está localizado o recém-inaugurado Fasano Trancoso. Além de abrigar o hotel que leva o mesmo nome, o empreendimento conta com vilas de três e quatro suítes pé na areia e lotes com vista para o mar paradisíaco. O Fasano, inclusive, foi responsável por colocar de vez Trancoso nas rodas dos endinheirados, trazendo um serviço de hotelaria e gastronomia de qualidade internacional para a região. Curiosamente, a exemplo do que ocorre com o condomínio pioneiro Terravista, o Fasano deixou de ser destino preferido de paulistanos. Aos poucos, os mineiros vão se tornando os principais clientes. Para quem está chegando agora, investidores já trabalham para multiplicar as ofertas de condomínios, com lançamentos de empreendimentos de luxo previstos para acontecer nos próximos anos.
Mas nem tudo é sombra fresca e água de coco na mais exclusiva e prestigiosa costa litorânea da Bahia. Para empreender na região é preciso enfrentar algumas barreiras, principalmente as relacionadas aos pobres serviços oferecidos ali pelo poder público. Trancoso sofre com a falta de escolas, com a coleta de lixo ineficiente e escassez de postos de saúde. As associações de moradores e as empresas acabam se responsabilizando por essas áreas, investindo para tentar suprir algumas das carências da região, incluindo melhorias das vias de acesso, a construção de centros culturais e a capacitação de profissionais. Assim nasceu o belíssimo teatro Loccitane, que, com sua arquitetura moderna, abriga eventos como o Festival de Música de Trancoso. Realizado todo mês de abril, ele oferece concertos eruditos para fechar com chave de ouro a alta temporada do vilarejo mais charmoso do sul da Bahia.