Brasil vira refúgio em tempos de incerteza, diz Filipe Ferreira
VEJA Mercado: Atraídos por ativos baratos e teses sólidas de commodities, investidores enxergam oportunidades na bolsa brasileira
O Banco Central divulgou nesta segunda-feira, 28, o Boletim Focus, relatório semanal com as principais projeções econômicas do mercado. Pela segunda semana consecutiva, o relatório revisou para baixo a previsão de inflação para 2025, agora estimada em 5,55%, mas aumentou a previsão para 2026, que passou para 4,51%. Em ambos os anos, as projeções ultrapassam o limite da meta de 4,5%. O relatório também manteve as previsões para o PIB de 2024 em 2%, o câmbio a R$ 5,90 e a Selic em 15%.
A projeção do Focus vem em linha com a prévia da inflação, conhecido como IPCA-15, que desacelerou pelo segundo mês consecutivo. O índice desacelerou para 0,43% em abril ante uma alta de 0,64% em março. O dado poderia soar positivo, mas ao olhar o acumulado de 12 meses, a inflação continua pressionada e subiu para 5,49%.
Esse cenário de inflação elevada e juros altos tem travado o mercado de IPOs, aquelas operações em que empresas abrem capital na bolsa. Desde 2022, nenhum IPO foi realizado. E, segundo a Anbima, também não há expectativas para este ano. “Para que o movimento volte a ganhar força, é necessário promover uma melhoria estrutural do nosso mercado, com expectativas mais favoráveis de crescimento econômico, inflação sob controle e, principalmente, uma perspectiva de juros substancialmente e estruturalmente mais baixos”, diz Filipe Ferreira, diretor de negócios da Comdinheiro/Nelógica. Mas, pra isso, é fundamental promover a redução dos gastos públicos — ou, mais precisamente, a geração e o aumento do superávit do Estado.
Apesar dos problemas domésticos, a incerteza no exterior pode ajudar a bolsa a atrair mais capital estrangeiro, um movimento que já vem acontecendo.
Isso porque, as bolsas americanas são altamente concentradas em empresas de tecnologia e de alto crescimento, negócios que projetam resultados futuros. “Em momentos de incerteza, investidores tendem a evitar pagar caro por promessas de crescimento ainda incertas”, diz Ferreira. Já no Brasil, investir em ativos ligados a minério de ferro, petróleo e juros — setores que predominam no nosso mercado — oferecem, nesse momento, mais solidez e previsibilidade.
“A bolsa brasileira passou a ser vista globalmente como um refúgio: preços baixos, fundamentos sólidos e teses de investimento ancoradas na economia real”, diz Ferreira.
Essa fuga de capitais para a bolsa brasileira explica, em parte, esse movimento de queda da moeda americana frente ao real. O dólar era cotado à R$ 5,66 às 11h. Segundo Ferreira, esse movimento ocorre em um contexto em que o dólar já vem se desvalorizando globalmente frente a outras moedas, reflexo do seu papel central no comércio internacional. “Com a perpectiva de uma desaceleração do comércio global, o dólar perde parte de sua força como moeda dominante, e surgem, ainda que de forma incipiente, discussões sobre a necessidade de diversificar as moedas utilizadas nas transações internacionais. Embora esse debate ainda esteja nos estágios iniciais, ele já começa a enfraquecer — ainda que levemente — a tese do dólar como refúgio absoluto para os capitais globais”, diz Ferreira.
As bolsas asiáticas encerraram o pregão desta segunda-feira, 18, sem direção única repercutindo as incertezas com a guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As bolsas europeias e americanas operam em alta reagindo a temporada de balanços. A semana é de divulgações de balanços financeiros importantes nos EUA, com a das sete magníficas (Apple, Microsoft, Google, Amazon, Meta, Nvidia, e Tesla).
A repórter Luana Zanobia entrevista Filipe Ferreira, diretor de negócios da Comdinheiro/Nelógica. O programa VEJA Mercado é transmitido de segunda a sexta, ao vivo no YouTube, Facebook, Twitter, LinkedIn e VEJA+, a partir das 10h.