Trump não muda parecer da França sobre acordo com Mercosul, diz embaixador
Representante francês classifica tarifas como ‘cataclisma’, mas país seguirá contra o acordo nos moldes atuais

O embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, classifica a política tarifária dos Estados Unidos anunciada na quarta-feira, 2 de abril, como “um cataclisma de primeira grandeza” e “um choque para todas as economias europeias”, mas diz que as tarifas americanas não mudam a opinião dos franceses sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. “O acordo tal como está não nos convém”, disse o embaixador durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 3, na residência da cônsul francesa em São Paulo. Lenain reconhece que as tarifas de importação impostas pelos americanos estimulam o já existente desejo da França de aprofundar a parceria com o Mercosul, mas o acordo ainda passa longe do respaldo dos franceses. O grande entrave é a preocupação do país europeu com possíveis fragilidades ambientais. “As pessoas costumam lembrar que o acordo já é negociado há 20 anos, mas é esse o problema. A arquitetura intelectual do acordo tem ainda mais tempo, 30 anos, e não se levava em conta normas ambientais naquela época”, diz.
Em paralelo à tentativa de firmar um acordo com o Mercosul, a Europa dá mais sinais de distanciamento em relação aos Estados Unidos. Após o presidente americano, Donald Trump, anunciar suas “tarifas de reciprocidade”, o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu que empresas europeias suspendam seus investimentos nos EUA enquanto a situação comercial entre os países não estiver “esclarecida”. “Não há razão para Macron não pedir isso às empresas”, diz o embaixador francês no Brasil. “E não há razão para a França não investir mais no Brasil, com quem não há guerra comercial”. O diplomata diz que o Brasil é “amigável” e está entre os países com os quais a França quer desenvolver parcerias, porque acredita que a confiança entre as nações vai perdurar no tempo. Lenain frisa que já há cooperação bilateral para o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis para a aviação, e reconhece o segmento de terras raras como outro interesse dos franceses no Brasil.