Brasil vive ‘boom’ de compra e venda de terras — e inunda outros setores
Advogados dizem que nunca houve tanta procura pelos serviços no agronegócio

As operações do agronegócio, frequentemente lideradas por pessoas físicas, têm ocupado cada vez mais mesas dos grandes escritórios de direito no Brasil. Apesar da crise recente do setor – e até por causa dela –, a consultoria de um advogado vem substituindo a informalidade que caracteriza historicamente os negócios agrários no país.
De acordo com Marcelo Guaritá, sócio do escritório Peluso, Guaritá Borges e Rezende, nunca houve tanta procura para compra e venda de terras no Brasil. “Em um ano tivemos um aumento de 50% de clientes com essa demanda”, diz o advogado e membro do Comitê de Leis e Regulamentos da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Segundo Guaritá, existe uma grande concentração de compra e venda na região Centro-Oeste, mas todo o Brasil vive um momento de alta da negociação de terras. “Em parte por conta do aumento de recuperações judiciais, as terras estão sendo vendidas para pagar dívidas e isso tem gerado um crescimento muito visível do volume de negócios.”
Para Flávio Álvares, da Abe Advogados, o aumento da atividade no agronegócio motivou a abertura de uma nova sede física, em Goiânia. “Acredito que esse grande movimento está ligado ao crescimento da profissionalização do setor”, diz o responsável pela operação na capital goiana. “Mas ainda é o tipo de acompanhamento que pede o contato direto, por isso estamos fisicamente mais próximos desse polo que é a região central do Brasil.” O advogado também calcula que a procura por apoio jurídico na compra e venda de terras mais que dobrou no último ano.
Natasha Giffoni Ferreira, sócia do escritório Volk & Giffoni Ferreira Advogados, o aumento da demanda por negócios envolvendo compra e venda de terras no Brasil se deve a uma mudança do negócio exclusivamente familiar para companhias com alto escalão terceirizado. “São CEOs, CFOs com grande experiência no mercado nacional e internacional que estão sendo absorvidos pelo agronegócio, justamente por conta de seu grande desenvolvimento recente. Para ela, que também viveu um crescimento expressivo de clientes, hoje existe um entendimento maior de que os meios para negociar terras são judicializados. Ela acredita que a própria legislação tende a evoluir, o que pode estimular a participação internacional nas operações.
Um estudo recente da Scot Consultoria, que analisa o mercado de terras nos 17 Estados mais relevantes na produção de grãos e gado de corte, revela que os preços das áreas para agricultura no Brasil subiram 113% em cinco anos. O valor médio do hectare passou de R$ 14.818,10 em julho de 2019 para R$ 31.609,87 no mesmo mês de 2024. No caso das terras destinadas a pastagens, a alta foi ainda maior, de 116%, passando de R$ 8.267,14 em 2019 para R$ 17.886,94.