Autonomia, desenvolvimento contínuo e propósito. Esses são os três pilares que, segundo Judith Wiese, head global de sustentabilidade e pessoas da Siemens (e também responsável pelo Brasil para esses temas), motivam as novas gerações a permanecer em uma empresa. Em um cenário marcado por alta rotatividade, especialmente entre jovens profissionais, a gigante alemã de 177 anos e faturamento anual de 75,9 bilhões de euros no ano fiscal de 2024, aposta em um modelo de gestão que combina tecnologia, sustentabilidade e valorização humana — e colhe os resultados. Em entrevista exclusiva à VEJA na Alemanha durante a Hannover Messe — uma das maiores feiras de soluções industriais do mundo —, Judith reforça que, quando bem cuidadas, as pessoas são o maior motor da inovação.

Muitas empresas estão fazendo uma pausa em suas políticas de ESG, especialmente no que se refere ao cuidado com as pessoas. Por exemplo, a Microsoft tem ajustado ou interrompido suas iniciativas relacionadas à diversidade e inclusão. Qual é a sua opinião sobre essa mudança de direção? Não posso falar em nome de outras empresas, mas na Siemens olhamos para as nossas pessoas, que sempre estiveram por trás das inovações. Temos 177 anos de história com programas de aprendizagem desde 1900, oferecemos moradia para os colaboradores desde cedo. O cuidado está profundamente enraizado em nossos valores tanto quanto diversidade, tolerância e abertura. Enxergamos que há maior produtividade em equipes multifacetadas. Quanto mais mudanças disruptivas existirem, mais você precisará de pensamento crítico coletivo e perspectivas diferentes para encontrar soluções. Isso explica porque somos tão bem-sucedidos.

Você cuida de dois temas diversos: sustentabilidade e pessoas. Como reter as novas gerações no local de trabalho? As pessoas gostam de ficar conosco. Nossa rotatividade varia de país para país, mas retemos bem nossos talentos. Na Índia, por exemplo, estamos 5 pontos percentuais abaixo da média. E o mesmo vale para o Brasil. E é interessante porque, se você olhar ao redor do mundo, os seres humanos não são tão diferentes assim. Para a geração atual, existem três fatores de motivação. O primeiro é a autonomia, que oferece aos colaboradores flexibilidade para decidir onde, quando e como trabalhar, além de permitir que tomem decisões por conta própria, sem a necessidade de consultar constantemente seus superiores. Essa liberdade de escolha é fundamental para engajar funcionários. O segundo fator é o desenvolvimento contínuo, que se tornou vital, especialmente em áreas como a engenharia de software, onde as habilidades se tornam obsoletas rapidamente. Proporcionar um ambiente de aprendizado constante é essencial para manter os profissionais motivados e valiosos no mercado. O terceiro ponto é o propósito: as pessoas buscam um significado, que estão contribuindo para algo maior e alinhado aos seus próprios valores. Quando essas três necessidades são atendidas, a Siemens consegue não só reter talentos, mas também promover um ambiente de trabalho dinâmico e inovador.

Qual é a reclamação mais comum que você ouve de funcionários? Às vezes, as pessoas dizem que a Siemens é tão grande que é difícil saber com quem falar, mas estamos trabalhando para facilitar isso. Elas também pedem ajuda para entender como podem se manter atualizadas com tanta tecnologia surgindo. Por isso, colocamos muito foco na aprendizagem com menos barreiras porque há alguns colaboradores que estão fora da formação formal há muitos anos. Então o desafio é também tornar essa atividade menos assustadora.

Você pode comentar sobre o comportamento dos profissionais brasileiros? O Brasil é um país com muito dinamismo. É uma boa mistura de experiência com uma força de trabalho jovem. E desde que começamos a falar sobre tecnologia e propósito — e o impacto que isso tem —, isso ressoa muito bem. Especialmente no contexto brasileiro, conseguimos atrair mais pessoas e diversidade.

Vocês fazem projeções para 5 ou 10 anos para o mercado ou tomam decisões para o curto prazo, como se o futuro não existisse? Você tem razão ao dizer que parece que o futuro não existe na Siemens — porque tudo está acontecendo agora. Pela primeira vez, nos últimos meses ou poucos anos, a tecnologia está evoluindo mais rápido do que a humanidade. Isso é uma enorme oportunidade, mas também uma grande disrupção. A questão é: quais papeis serão atribuídos aos humanos e como garantir que a vanguarda os acompanhe? Por isso também ajudamos os nossos clientes com gestão de mudança e aprendizado. Se fizermos isso de maneira eficaz, tudo vai dar certo.

Quais são os países referência em sustentabilidade hoje? Os países nórdicos — Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia — têm um forte foco nesses temas. A China tem uma agenda enorme de descarbonização e, cada vez mais, de circularidade, porque eles sabem que isso é crítico para a prosperidade do país e da população.

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