A conta da tragédia de Mariana e a briga de gigantes em torno da Samarco
Credores acusam Vale e BHP, acionistas da Samarco, de socializar obrigação das indenizações pelas destruições causadas pelo estouro da barragem
Três dias antes de protocolar sua recuperação judicial, a Samarco fez uma assembleia de acionistas para aprovar e oficializar como dívida os aportes feitos pela Vale e BHP na Fundação Renova, que cuida dos pagamentos das indenizações pelo rompimento da barragem de Mariana, que matou 19 pessoas e causou uma tragédia ambiental sem precedentes. As duas empresas respondem por 23 bilhões de reais da lista de credores, quase metade do valor total. A Samarco diz que era apenas uma mera formalidade já que as dívidas estavam sendo registradas desde 2016. Os outros credores não gostaram.
Depois de entrar em recuperação judicial, a empresa propôs um empréstimo da acionistas de cerca de 1,9 bilhão de reais. Um empréstimo deste tipo dá direito de preferência no recebimento. Aí os credores deram pulos e foram à Justiça questionando alegando que a Samarco não precisa do tal empréstimo já que o único uso justificado dos recursos seria para o pagamento das parcelas do acordo da tragédia de Mariana. O que seria um escândalo porque Vale e BHP são obrigadas a pagar as indenizações se a Samarco não puder fazer os pagamentos. O que Vale e BHP estariam fazendo, segundo os credores, é transformando em dívida o que já é obrigação delas fazer. Ou seja, estariam mais uma vez socializando as indenizações com os credores. Os credores chegam a falar em fraudes e crimes falimentares. E pedem ao juiz que se ele realmente entender que a Samarco precisa do dinheiro, que ela dê oportunidade aos próprios fundos a fazerem os empréstimos.
Os credores são os grandes fundos de distress, que compram dívidas a preço de banana e entram nas brigas com as empresas para recuperar o que investiram com rendimentos polpudos. Pejorativamente são conhecidos como fundos abutre. Os fundos têm um motivo para tanta briga com Vale e BHP. A Samarco, sabendo que eles compraram as dívidas com superdescontos, ofereceu no seu plano de recuperação judicial a pagar somente 25% da dívida e a partir de 2041. A alternativa é trocar dívida por ações preferencias, ou seja, sem direito a qualquer voto na empresa. A proposta não agradou. A Samarco precisa dos fundos para aprovar seu plano, ou seja, a briga vai longe.
*Correção. A versão anterior informava erroneamente que a assembleia de acionistas havia sido registrada seis dias antes do pedido de recuperação judicial e que a tragédia havia matado 5 pessoas. O correto é 19 pessoas.