Tentativa de golpe em Brasília: o que o mercado projeta daqui para frente
Invasão de prédios dos 3 Poderes não terá força para destruir a democracia no País; a dúvida é seu impacto na visão do governo para a economia

A avaliação no mercado financeiro é de que a tentativa de golpe do último domingo, em Brasília, não “passou de uma palhaçada” e foi articulada por “malucos” – na definição de banqueiros ouvidos pela coluna. “São pequenos grupos de malucos, e acho que as instituições (democráticas) estão saindo fortalecidas”, disse um deles. “Não estou preocupado (com o risco de novas tentativas)”, acrescentou outro.
Se neste caso a visão é otimista, ainda sobram dúvidas sobre como o episódio do último domingo pode mexer com a definição da política econômica do novo governo. Para o sócio de uma asset com negócios no eixo São Paulo-Rio, vai aumentar a pressão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “adote uma política econômica responsável”. E, mesmo com o amplo apoio costurado por Lula com as lideranças no Congresso e no Judiciário, há quem afirme que o presidente não “terá vida fácil para aprovar o que precisa nos próximos quatro meses”.
Prevalece a opinião de que Lula manteria uma “visão desconectada” em relação à necessidade de ter mecanismos que permitam que os preços de mercado se equalizem. “Minha sensação é de que o Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) está com a cabeça certa, mas o Lula ainda não”, analisa um grande executivo de mercado. E completa: “A economia está sentindo muito esse nível de taxa de juros, que não vai cair se o discurso não mudar.”
Num esforço para dar um sentido de “normalidade” ao governo, Haddad prometeu anunciar ainda nesta semana as primeiras medidas econômicas. É esperada, por exemplo, o fim da isenção na cobrança de impostos federais sobre combustíveis, o que reforçaria o caixa num momento de aumento de gastos. Tudo vai depender da aprovação de Lula. Será a chance de conferir a distância entre os desejos do mercado e a intenção imediata do governo.