Nubank: a retomada rápida de foco nos negócios no Brasil
Especialistas em Relações com Investidor avaliam que o banco digital reagiu rápido e acertou ao fechar seu capital no Brasil
O Nubank surpreendeu o mercado duas vezes nos últimos nove meses. Primeiro em dezembro de 2021, quando simultaneamente abriu o capital no Brasil e nos Estados Unidos. E na semana passada, quando anunciou o encerramento de seu programa de BDR nível 3 e, com isso, deixou de ser uma companhia aberta diretamente listada na B3. “Foi um equívoco no foco dos negócios”, avalia um dos sócios de um grande banco de capital aberto e head da área de relações com investidores (RI). “Ter duas listagens – aqui e lá fora (nos EUA) – é um esforço muito grande para o banco, por causa das regulamentações distintas”, completa.
Em comunicado para esta coluna, o Nubank explica que a reestruturação do programa de BDR (Brazilian Depositary Receipt), sujeita às aprovações da CVM e da B3, irá maximizar nossa eficiência e reduzir redundâncias, permitindo maior geração de valor para nossos investidores a longo prazo. “Este movimento não afeta nosso compromisso com o mercado de capitais brasileiro, e seguiremos na B3 com BDR Nível I.”
Com a mudança, a fintech não terá mais de seguir as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas os novos recibos de ações serão negociados na B3. Quando fez seu IPO em dezembro passado, o Nubank alardeou que manteria a dupla listagem das ações e reforçou, à época, que o desenho refletia a importância dada aos investidores brasileiros. O banco digital explica ainda que fazer uma dupla listagem no Brasil e nos Estados Unidos desafiou o Nubank a superar complexidades de engenharia, financeiras e legais. “Valeu a pena: este movimento inédito possibilitou que a empresa criasse, no momento da largada com seu IPO, uma das maiores iniciativas de inclusão financeira da história do país, o NuSócios, com 7,5 milhões de pessoas que se tornaram investidores no mercado de ações”, explicou o Nubank no comunicado.
Por outro lado, os especialistas ouvidos pela coluna afirmam que a decisão de assumir o erro, virar a mesa e fechar o capital no Brasil em poucos meses foi acertada. “Já era esperado que as duas listagens não poderiam dar certo”, afirmou um dos sócios de um grande branco digital, também especialista em RI. “Faz sentido terem fechado o capital aqui e retomado o rumo dos negócios”, afirmou o banqueiro.
Daqui pra frente, o mercado financeiro ficará a cada três meses com olhar atento para os resultados operacional, de receita, lucro e crescimento da carteira do Nubank. “Nossos resultados trimestrais têm demonstrado nossa solidez, potencial e resiliência. Temos um crescimento consistente, rentabilidade na nossa operação brasileira, e já chegamos a mais de 65 milhões de clientes na América Latina –seguimos aumentando a receita média por cliente, mantendo custos operacionais baixos, e fazendo uma gestão eficiente de riscos. Daqui para frente, o foco é continuar crescendo o portfólio de produtos no Brasil e avançando em posições de liderança em cartões e investimentos, e seguir com o plano de expansão na Colômbia e no México”, concluiu o Nubank.
Fato é que o banco digital seguiu a cartilha da sua cofundadora e Ceo no Brasil, Cristina Junqueira, que em julho passado afirmou à coluna: “Precisamos fazer menos coisas, mas necessariamente muito bem feitas. Não vamos parar de atravessar fronteiras”. Talvez fosse o caso de citar também uma outra frase famosa de Bill Gates, o gênio por trás da Microsoft: “To win big, you sometimes have to take big risks”. O que, em tradução livre, poderia ser: “Para ganhar muito, às vezes você tem de correr grandes riscos.”