Investimentos: CVM quer regular mercado de influenciadores
Autarquia fez estudo sobre possível regulamentação envolvendo influenciadores digitais no mercado de capitais; especialista analisa esse mercado

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estuda a possibilidade de regulamentar a relação comercial entre influenciadores digitais e participantes do mercado de valores mobiliários. Pesquisa recente da B3 mostrou que cerca de 75% das pessoas que iniciaram seus investimentos têm como base em informações vindas do YouTube e de influenciadores. Esse percentual é significativo e mostra como opiniões expressas nas mídias sociais podem afetar as decisões individuais de negociação dos investidores.
Esse estudo da CVM também destaca as discussões que estão sendo realizadas com representantes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e da BSM Supervisão de Mercados, a fim de alinhar as iniciativas que serão tomadas no âmbito da autorregulação. Sobre esse tema, a coluna ouviu Leonardo Ugatti Peres, sócio-fundador do escritório AP Law, presidente da Comissão de Direito Empresarial da ABA/RJ e membro da Comissão de Mercado de Capitais da OAB federal.
Como o sr. vê o uso de informações e conselhos de influenciadores digitais como base para investimentos no mercado financeiro?
Hoje, o acesso a informações está mais fácil, simplificado e difuso do que em outros tempos. Esse acesso facilitado a informações é ponto positivo, mas deve haver conscientização dos limites dessa comunicação para evitar que ofertas irregulares, consultorias de valores mobiliários e outras atividades reguladas sejam exercidas sem a devida fiscalização.
Considera necessária a regulamentação desse mercado? E como regular esse mercado?
Não. Entendo que hoje a CVM já possui regras que se aplicam aos casos concretos existentes. Falta maior acesso à informação e disclosure – esse material divulgado pela CVM é um ótimo primeiro passo para conscientizar influenciadores de que suas atividades envolvem certas responsabilidades e limites, e que sanções podem ser aplicáveis.
A CVM fez estudo sobre regular esse mercado de influenciadores, com base em pesquisa da B3, na qual mostra que 75% das pessoas que fizeram seus primeiros investimentos foram influenciados pelo Youtube e influenciadores digitais Por que o sr. acha que as pessoas acreditam mais em influenciadores diversos do que em profissionais qualificados no mercado que trabalham em bancos?
Acredito que tudo tem a ver com a facilidade de acesso, que mencionei antes. É muito fácil compartilhar com amigos o perfil de um grande influenciador – em um ou dois clicks você consegue. Por outro lado, os profissionais qualificados do mercado são, naturalmente, de acesso mais limitado. Mais uma vez, tudo passa por conscientizar o público de que cada atividade depende de um tipo diferente de especialista, e, por outro lado, conscientizar os influenciadores de que as atividades que eles exercem se enquadram em uma das “caixinhas” de atividades reguladas pela CVM: consultores, gestores, intermediários etc.
CVM e Anbima deveriam abraçar essa questão? E o papel do Parlamento?
Essas entidades já têm participado de estudos sobre o tema e possuem bons canais de acesso para conscientização do público. Não acredito que o envolvimento do Legislativo seria positivo, pois hoje as regras em curso são mais do que suficientes para coibir atividades irregulares, e é importante afastar a politização do tema. Desde o ano passado, a CVM tem tido um diálogo muito mais próximo com a sociedade civil, e essas novas iniciativas serão bom motor para conscientização da sociedade civil e dos próprios influenciadores, que devem ser orientados sobre os limites de suas atuações, especialmente pela força que suas opiniões têm junto ao mercado.
Quem ganha e quem perde com esse cenário de influenciadores se voltando para o mercado financeiro?
O mercado brasileiro cresceu muito, mas ainda está em desenvolvimento. Durante o desenvolvimento de mercados é natural que haja erros e acertos, e que haja momentos em que o ente regulador precisará ter uma atuação mais focada na coibição de certas práticas e conscientização dos limites de atuação desses profissionais. Caso bem instruídos, podem ser importantes aliados na conscientização do público em geral, e na criação de um mercado cada vez mais sofisticado. A palavra-chave é educação.