Entrega rápida e segura é o filão de negócios pós-pandemia
A chinesa Lalamove cresce exponencialmente no mercado de frete no Brasil, setor ainda dominado pela informalidade
Helena Lizo é formada em administração pela FGV, e por um par de anos atuou no setor de finanças no Unibanco, Danone, Unilever e Red Bull. A guinada na carreira veio em 2019, quando aceitou a proposta para comandar as operações no Brasil de uma startup chinesa da área de logística. Ela virou diretora geral da Lalamove no Brasil, que atua hoje em mais de 20 mercados na Ásia e América Latina – no Brasil, no México.
No Brasil, a empresa aposta no conceito da “última milha”, que se refere à entrega final do produto ao consumidor. Sem abrir dados de receita, Helena fala em crescimento exponencial em três anos de operação. Em 2021, o crescimento chegou a 300% de receita em relação ao anterior. Neste ano, até agora, os números apontam para avanço de 200% no resultado das operações de 17 cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Para dar conta das encomendas, mantém uma frota com 300 mil motoristas registrados – sendo 50% de motos; 36% de carros; e 14% de veículos maiores como caminhões. “Esse segmento de logística, de última milha, está começando a se organizar no Brasil, e a Lalamove quer aproveitar essa oportunidade”, disse ela à coluna. “É um mercado em ebulição.”
A empresa existe desde 2013, mas só pouco antes da pandemia, há três anos, chegou ao Brasil. Por que levou tanto tempo?
A Lalamove começou em 2013, e tinha seu plano de expansão focado no território asiático. Houve a abertura nas Filipinas, que foi o grande case de sucesso nessa primeira fase de expansão. Quando a empresa virou um unicórnio (startups com valor de mercado superior a US$ 1 billhão), em 2018, ela recebeu aporte de capital robusto e entendeu que poderia expandir para outros territórios com diferença cultural maior, mas que tivessem a capacidade de penetração que a Lalamove tem hoje na Ásia. Então, se escolheu a América Latina: Brasil, em agosto (de 2019), e o México, em novembro. Os dois países foram abertos com base em tamanho populacional, pois é um indicador importante de mobilidade urbana e necessidade de logística mais veloz também. E se olha ainda para o tipo e o tamanho das frotas disponíveis – quantas motocicletas, quantos caminhões e utilitários existiam. Mas o primeiro dado é sempre o tamanho da população.
Nesse período de operação, quais foram os resultados em termos de número de clientes e de receita?
É um mercado que tem investimento alto na América Latina. O Brasil, hoje, representa entre três e quatro vezes o que o México tem de investimentos. Temos tido um crescimento exponencial no Brasil. Às vezes, acima de 300% no resultado das operações. A gente cresceu mais de 300% no último ano. De 2021 para 2022, estamos em torno de 200% em receita.
Qual a participação de mercado já alcançada no País e qual a meta para os próximos anos?
No ano passado, a gente abriu nosso serviço em 15 cidades. Estamos hoje em 17, incluindo o Distrito Federal. Ribeirão Preto é a única cidade onde operamos que não é capital. Começamos no Rio e em São Paulo, em 2019, e só em 2021 abrimos em outras cidades. Nosso objetivo maior é fazer bem feito os serviços básicos nessas cidades. Há planejamento para consolidar essas metrópoles e, quando a gente consegue isso, logo partimos para expandir em outra região metropolitana. Por exemplo, em São Paulo vemos potencial grande em Campinas, que é uma cidade em que atuamos como se fosse o mapa de São Paulo. Mas a gente sabe que pode explorar melhor a cidade em si. A nossa estratégia de expansão é focada em olhar para a área ao redor das grandes metrópoles e entender onde se tem demanda latente e clientes que operam nesses centros próximos.
Quais são seus principais concorrentes aqui?
Hoje, a gente atua principalmente com entrega no mesmo dia e em minutos, e dentro de uma mesma cidade. E por isso, temos concorrência grande de frotas próprias – aquele senhor que tem o caminhão escrito “faz carreto”, profissionais autônomos e pequenos frotistas que têm quantidade de utilitários, vans para fazer justamente esse transporte dentro da cidade. Mas tem ocorrido que alguns frotistas usam também os nossos serviços para crescer. Hoje, a gente consegue atender toda essa cadeia. São competidores indiretos, mas são oportunidade de negócios para a Lalamove também.
De que forma as restrições de circulação impostas pela pandemia ajudaram no plano de expansão da companhia no País?
Esse segmento de logística, de última milha, está começando a se organizar no Brasil, e a Lalamove quer aproveitar essa oportunidade. Há novos players nesse mercado de última milha, e na pandemia a gente viu esse número aumentar bastante. É um mercado que tem se organizado cada vez mais. Vemos hoje muitos e-commerce e marketplace fazendo aquisições de empresas transportadoras. É um mercado que está entendendo como atuar: se vai atuar de forma própria, com parceiros ou intermediadores, com transportadoras, com autônomos. É um mercado que está entendendo como está a demanda e o que existe hoje de oferta. É um mercado em plena ebulição.
Qual o principal segmento de atuação da empresa no Brasil e por quê?
A gente atua tanto na entrega do consumidor final para clientes corporativos ou também temos um serviço de entrega imediata para clientes de pessoa física. Com isso a gente consegue destacar alguns segmentos desse mercado que usam hoje de forma imediata. O varejo por exemplo tem feito vendas por WhatsApp e precisa entregar o produto para o seu cliente. E o setor de alimentos e bebidas é hoje o mais pujante nas grandes cidades. Outro setor dentro de varejo em destaque também é o de pet store. É um setor que tem crescido muito no mercado hoje. Ou seja, há demanda crescente pela entrega agendada ou imediata. Aqui na Lalamove a gente trata de entregar o sapato no mesmo dia da compra ou garantir que o cliente receba a ração de seu cachorro ou gato rapidamente na casa dele.
Qual o percentual de entrega de e-commerce em relação ao de outros segmentos no País?
Cerca de 30% do nosso mercado hoje é de e-commerce, e outros 10% se referem a marketplaces. Ainda assim, muitos e-commerces também têm operações com lojas físicas e nos usam para coletar na loja e ir até o cliente delas. Estas operações físicas costumam demandar entrega imediata ou no mesmo dia, enquanto os e-commerces puros trabalham com uma organização maior e usam mais entregas agendadas.
O que diferencia o mercado brasileiro em relação a outros países? A empresa precisou fazer alguma mudança no seu modelo de trabalho para atender a necessidades específicas do mercado/cliente brasileiro?
No estilo da logística, não há diferença. Mas as diferenças ocorrem nas formas de pagamento. Na Ásia, todos os pagamentos são por QRCode. São online, direto de um celular para o outro. Aqui, a gente tem a ‘bancarização’. Ou seja, o uso do cartão de crédito é muito mais intenso. E a gente agora tem o Pix, que é um formato de pagamento exclusivo do brasileiro. Temois também os nossos queridos e amados boletos.
Qual a participação da Lalamove em outros países, nos principais mercados internacionais? É líder na China por exemplo?
A Lalamove tem estado entre os três líderes de mercado nos mercados asiáticos. Atuamos só na Ásia e na América Latina. E aqui temos uma participação mais relevante do que a do México, porque lá há maior desafio de entender mais a logística de mobilidade urbana e ainda não se conseguiu estar nos top players.