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Americanas: o que pode estar por trás da contratação de Cristiano Zanin

Meio empresarial vê trabalho de advogado de Lula como elo com o governo para tirar empresa da UTI

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 fev 2023, 14h11 - Publicado em 6 fev 2023, 10h30

A contratação de Cristiano Zanin para trabalhar na defesa da Americanas entrega uma estratégia aparentemente jurídica, mas que, na verdade, é empresarial, na medida em que pode envolver o governo em algum momento. É a avaliação de empresários e juristas ouvidos pela coluna, para os quais a atuação do advogado – que defendeu o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos processos envolvendo a Lava Jato e também na eleição do ano passado – não deve se restringir ao caso para o qual foi contratado – na 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Zanin passou a ser visto como alguém que pode ampliar a “voz” em defesa da empresa dentro do governo, dada a proximidade não apenas com Lula, mas também com vários de seus ministros. Podendo até – se necessário – conseguir alguma ajuda financeira do BNDES.

Seu poder de influência também poderia se estender às instâncias superiores de Justiça, e para isso contaria pontos o fato de o advogado ser hoje um dos principais cotados para assumir a vaga do ministro Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF). Lewandowski vai se aposentar até maio, quando completa 75 anos. Outra vaga vai aparecer em outubro, a de Rosa Weber.

Zanin ganhou visibilidade pública ao defender Lula, mas sua experiência jurídica já tinha sido colocada à prova muito antes disso, quando participou de grandes casos de litígio empresarial. No rol desses casos, figuram empresas como Transbrasil, Schincariol, Varig, General Eletric, BM&F e Braken. E sua estatura no meio jurídico é incontestável.

A imagem pública da Americanas foi do céu ao inferno em menos de um mês depois que o seu ex-CEO Sérgio Rial (que ficou só nove dias no cargo) tornou pública uma “inconsistência” de R$ 20 bilhões nos últimos balanços. Em recuperação judicial, a empresa deve mais de R$ 43 bilhões na praça, está no meio de uma briga jurídica feroz com os bancos e já avisou que mais cedo ou mais tarde terá de fazer uma “reestruturação”, colocando em xeque o emprego de cerca de 44 mil colaboradores.

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Vale lembrar que, desde a campanha à Presidência da República no ano passado, Lula não tem perdido uma chance para condenar os métodos empregados na Lava Jato, que, segundo ele, deixaram como principal herança empresas quebradas e funcionários na rua. “A possibilidade de Lula ajudar de alguma forma a Americanas é quase certa”, afirma um empresário. Por outro lado, Lula fez duras críticas aos acionistas da Americanas na semana passada.

Com um eventual apoio do governo, avaliam juristas, a empresa poderia “sair da UTI”, ganhar sobrevida até ter chance de voltar a andar com as próprias pernas. A questão seguinte é como ficaria a situação do trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, que são acusados pelos credores de patrocinar e acobertar o rombo do mercado, a exemplo do que supostamente teria ocorrido na ALL e Kraft Heinz, conforme a coluna antecipou anteriormente. A resposta pode ser esta: um problema de cada vez.

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