Americanas: o principal impasse no acordo entre acionistas e credores
O empréstimo de R$ 2 bilhões pelos acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles é motivo de chacota entre credores da varejista
Uma primeira reunião entre um dos principais acionistas da Americanas, Carlos Alberto Sicupira, e representantes dos credores na semana passada foi em vão. O ponto que emperrou a reunião foi a oferta feita pelos controladores para a capitalização da varejista. A sugestão de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Sicupira de injetar até R$ 2 bilhões para manter a operação da varejista no curto prazo – e evitar o início de demissões em massa – foi vista como uma chacota por parte dos credores. “É uma piada”, reagiu um dos credores que participou da reunião e ficou enfurecido. “Ainda mais como empréstimo”, completou, referindo-se ao formato da operação (DIP, só acessível a empresas em recuperação judicial). O resultado foi que horas de reunião não serviram para nada, e isso não deve mudar enquanto os acionistas não apresentarem nova proposta. “O quanto eles vão oferecer para capitalizar a empresa é o ponto crítico”, afirma outro credor. “Senão, nada feito.”
Na pauta da crise, essa reunião com credores é considerada chave para o enfrentamento do caso Americana, envolvida num escândalo contábil de R$ 20 bilhões. O escândalo se tornou público quando o ex-CEO da varejista Sergio Rial convocou na tarde de 13 de janeiro uma reunião com representantes de outras instituições financeiras e anunciou o rombo. Rial havia acabado de renunciar ao comando da varejista, depois de menos de duas semanas no cargo, e anunciava que passaria a atuar como assessor dos três principais acionistas da Americanas. Algo que não passou de alguns dias para também ser afastado definitivamente do encargo.
Desde então, o que era um escândalo contábil se transformou numa guerra aberta entre advogados e representantes dos dois lados: os credores falam em fraude articulada pelos próprios acionistas, que alegam desconhecimento das irregularidades. Nessa rede de negociadores, existe preocupação com as micros, pequenas e médias empresas que tinham (ou ainda têm) relação comercial com as Americanas e que, exatamente por seu porte, podem não ter fôlego e tempo para esperar pelo resultado do processo de recuperação judicial. Há uma corrida de financiamento em bancos para que elas possam ganhar sobrevida por mais algum tempo. A reunião entre Sicupira e credores é vista, portanto, como fundamental para o andamento das negociações. O recado foi dado: ou colocam realmente a mão no bolso para salvar a varejista ou nada feito. A guerra continua.