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Por Murillo de Aragão
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Vampeta e a reforma ministerial

Mudanças na Esplanada evocam uma frase lapidar do ex-jogador

Por Murillo de Aragão 24 set 2023, 08h00

Quando estava no Flamengo, o futebolista multicampeão Vampeta disse uma frase lapidar em relação ao time que se aplica à política: “Eles fingem que pagam, eu finjo que jogo”. A minirreforma ministerial pode estar no mesmo padrão de ambiguidade — eu finjo que abro espaço relevante no ministério e você finge que me apoia.

Vale lembrar o comentário do presidente do PSB, Carlos Siqueira, após o anúncio da troca de ministros: “A reforma ministerial é novela demorada e de mau gosto”. Disse também que apenas no Brasil oposição vira governo. Periga virar governo e continuar sendo oposição!!!

O cenário político pós-minirreforma prosseguirá nebuloso. PP e Republicanos vão divididos para o ministério, o União Brasil está em crise e o PSD da Câmara dos Deputados está insatisfeito com seus espaços no governo. Assim, o apoio que os partidos do Centrão propõem tende a ser limitado, pontual e específico. E, ainda, passível de negociações adicionais.

O Flamengo dos tempos de Vampeta era uma “várzea” de salários atrasados e dívidas estratosféricas, e a profissionalização dos dirigentes de clubes era precária. Atletas como Vampeta já tinham feito a vida e sabiam que, na Justiça, receberiam o devido. Na real, portanto, todos mentiam, ninguém acreditava e ficava por isso mesmo.

“O governo deve abandonar agendas que não obtenham o consenso das forças dominantes no Congresso”

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Em Brasília, o fundamento do “finge que você governa” e do “finge que eu apoio” é a desconfiança que atravessa o mundo político. Entre os atores políticos ninguém acredita que o outro vai entregar o prometido e a desconfiança corrói o sistema político. O governo de hoje já entendeu o jogo no qual o Congresso tem mais poder do que antes. Porém, ainda está longe de construir um governo de coalizão que, de verdade, resultaria em uma parceria sólida.

A desconfiança mina as negociações e o processo de construção de consensos, já que, além de adversários no Congresso, parlamentares e governo são adversários nos níveis estadual e municipal, numa teia intrincada de interesses e áreas de conflito. Dentro do próprio universo petista existem facções que disputam projetos e poder. Enfim, uma guerra campal.

Para desmentir o axioma de Vampeta na política, o governo terá de ceder mais e conciliar propostas. A base política ampliada terá de corresponder aos espaços relevantes que receber. Além do mais, o governo deve abandonar agendas que não obtenham o consenso das forças dominantes no Congresso.

Somente assim as lideranças minimizarão os efeitos das desconfianças internas, criando condições para que se estabeleça um governo de coabitação e de avanços em uma agenda positiva.

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Mas as chances de a desconfiança entre as forças políticas diminuir de forma significativa são remotas. Daqui a alguns meses as eleições municipais colocarão aliados em disputa em meio a uma agenda complexa. Basta lembrar que temos à mesa a reforma tributária, sua regulamentação e o Orçamento da União, entre outros temas. Qualquer inconsistência por parte do governo nas relações políticas com o Congresso dificultará a construção do consenso necessário.

Sendo assim, a novela apontada por Carlos Siqueira prosseguirá na pauta por algum tempo. Com consequências claras: a minirreforma ministerial aumentará a blindagem do governo, mas não garantirá passe livre para a agenda governista.

Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860

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