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Murillo de Aragão

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O caos obriga ao entendimento

Sem diálogo e cooperação, as sequelas da pandemia serão piores

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 14h21 - Publicado em 27 mar 2020, 06h00

É recorrente usar a II Guerra Mundial como exemplo de gestão de crise. Quando a Inglaterra, finalmente, descobriu que o confronto com a Alemanha nazista era inevitável, rendeu-se aos fatos.

Para liderar o esforço de participar de um conflito que não queriam, os britânicos chamaram Winston Churchill, o único homem então capaz de unir governo e oposição — ambos mais civilizados que os nossos — em torno de um projeto comum. Mas não foi apenas Churchill que ganhou a guerra. Todos se uniram e trabalharam em conjunto. Não é o que ocorre por aqui.

O acaso nos meteu, provavelmente, na maior crise sanitária desde a gripe espanhola e nos pegou desprevenidos para enfrentar o desafio. Contudo, estamos há mais de dois meses com a ameaça da pandemia do novo coronavírus nos rondando, e, desde então, apesar das medidas tomadas, os avanços não são os necessários. O bate-boca institucional, entre a União e os estados, dificulta o esforço comum que deve ser feito. Não é disso que precisamos.

Para simplificar o que está por vir, vamos considerar três cenários: o pior possível, um intermediário e um benigno. O pior cenário seria algo parecido com o que ocorre com a Itália. O melhor cenário seria, simplesmente, um brutal arrefecimento do processo de contaminação. O bom senso nos mostra que podemos ter algo intermediário. Mesmo assim, caminhamos em uma jornada sem mapas com a expectativa de que, no fim de abril, nosso sistema de saúde possa entrar em colapso. O SUS está pressionado e a economia já sofre com a desaceleração. Como vencer os desafios de atender os doentes, evitar uma contaminação generalizada e, ainda, esquivar-se de uma recessão de imensas proporções?

“O cenário que se desenha pode ser ainda mais grave por causa da confrontação institucional”

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Não temos convencimento das soluções que devem ser adotadas. Falta-nos direção. Pior é a ausência de uma narrativa mobilizadora. Não há uma comunicação efetiva, já que as esferas públicas estão em conflito e, muitas vezes, sem convicção acerca do que fazer. Assim, o cenário que se desenha pode ser ainda mais grave por causa da crise institucional que está instalada. Em meio a um ambiente de disputa entre poderes, nos três níveis, imagine os desdobramentos do aumento de contaminados com sintomas graves diante das limitações de nosso sistema de saúde. Não julgo aqui o mérito das iniciativas de cada ator político. Mas o fato inconteste é que a crise do coronavírus exige serenidade, entendimento e ação coordenada da União, estados e municípios.

Tenho a certeza de que um conflito institucional não nos ajuda. O Brasil necessita de um ambiente de unidade nacional para vencer a epidemia e seus efeitos. O Congresso terá de aprovar medidas. União, estados e municípios terão de implementar iniciativas em conjunto. As agendas eleitorais dos atores políticos — em especial o presidente da República e os governadores do Rio e São Paulo — precisam ficar de lado perante o drama que vamos viver. O fim da história, por melhor que seja a ação dos governos, será dramático para milhões que perderão o emprego e para centenas de milhares de pessoas que serão acometidas pelo vírus. Eles merecem o compromisso, a união e uma ação integrada dos poderes públicos.

Publicado em VEJA de 1 de abril de 2020, edição nº 2680

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