Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Murillo de Aragão
Continua após publicidade

Delírios cinematográficos

O surreal roteiro do Planalto em torno de um golpe de Estado

Por Murillo de Aragão 18 fev 2024, 08h00

O argentino Ricardo Darín protagoniza um filme pouco conhecido por aqui, mas que tem relativo destaque em sua carreira: Delirium, de 2014. A trama tem início com a invasão de Buenos Aires por tropas americanas e, a partir daí, é narrada a causa do ataque. Trata-se de uma crítica bem-humorada à política argentina, que há muito vive em estado comatoso. No enredo, sur­real, três jovens sem perspectiva acreditam que podem ficar milionários fazendo um filme com poucos recursos. E convencem Ricardo Darín, que faz o papel dele mesmo, a estrelar a produção, que termina em uma enorme confusão política após o seu desaparecimento.

No Brasil, não tivemos um filme, mas sim um delírio “planaltino” real, numa reunião ministerial em Brasília documentada pelo tenente-coronel Mauro Cid em 5 de julho de 2022. A gravação nos lembra outro filme icônico, Dr. Strangelove, aqui intitulado Dr. Fantástico, com o inesquecível Peter Sellers e dirigido por Stanley Kubrick. O filme narra o que acontece quando um general americano insano ordena um ataque nuclear contra a União Soviética, desencadeando uma série de eventos que levam ao iminente fim do mundo.

“Bolsonaro terminou capturado pelos seus fantasmas e foi o maior causador de sua derrota em 2022”

A cena da reunião presidencial em Dr. Strangelove é uma das mais memoráveis do filme. O ambiente na sala é tenso e frenético, com todos os participantes cientes das consequências potencialmente catastróficas da situação. O filme é frequentemente referenciado por sua representação de processos de tomada de decisão falhos, especialmente em situações de alto risco. Os personagens do filme tomam decisões que aumentam as tensões e levam a resultados catastróficos.

No Brasil, a gravação da reunião de 5 de julho de 2022 revela uma pararrealidade em que fatos e ficção se misturam costurados por narrativas delirantes em torno de um golpe de Estado. Com a agravante, porém, de que realmente foi realizada e de que as intenções ali debatidas acabaram não se concretizando somente porque alguns “cagões” tiveram a coragem cívica de não embarcar em uma aventura golpista.

Continua após a publicidade

O delírio “planaltino” nos deixa algumas certezas. A primeira é de que houve a intenção de promover uma virada de mesa. A segunda é de que não houve “colhões” nem liderança para tal. A terceira constatação é de que as Forças Armadas, como instituição, não queriam o “golpe”. A quarta constatação é de que no Brasil existem instituições que funcionam e que têm noção de sua responsabilidade perante a Constituição de 1988.

O ex-presidente Jair Bolsonaro poderia ter ganhado as eleições de 2022 dentro das quatro linhas se tivesse tido discernimento político. Terminou capturado pelos seus fantasmas e foi o maior causador de sua derrota. Ao final, a narrativa golpista não se realizou. Contudo, os acontecimentos posteriores às eleições, como o vandalismo em Brasília no dia da diplomação dos eleitos, a tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília e as invasões aos palácios na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro, atestam que houve mais do que bravatas.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.