As dificuldades da reforma tributária
Não haverá mudanças sem o apoio de governadores e prefeitos
![(FILES) Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva speaks to the press after a summit of South American leaders, at Itamaraty Palace in Brasilia on May 30, 2023. President Luiz Inacio Lula da Silva has been in diplomatic hyperdrive since taking office, making Brazil a key global player again -- but stoking controversy with some of his stances, including on Ukraine and Venezuela. Less than six months into his term, the veteran leftist has already met more foreign leaders than his predecessor, far-right ex-president Jair Bolsonaro, did in four years -- 33 to 32, according to a count by newspaper O Globo. (Photo by EVARISTO SA / AFP)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/06/000_33K34HH.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Todos sabem que a reforma tributária é mais do que necessária. O Brasil hoje tem um sistema complexo que penaliza o pobre e a produção. Gastam-se horas intermináveis de trabalho apenas para pagar impostos. Nossa carga tributária chega a 34% do PIB. E a contrapartida, como se sabe, não é das melhores. Apesar disso, os sinais emitidos indicam que não há perspectiva de queda da carga tributária em relação ao PIB. E, para piorar o quadro, o marco fiscal, ora em discussão, deve exigir mais 1% do PIB em impostos.
Além da certeza de que a carga continuará alta, a outra convicção é a de que não há um consenso solidificado que permita a aprovação de uma reforma razoável. Existem divergências sérias e entendimentos equivocados sobre o assunto. Um deles é o de que o agronegócio e o setor de serviços pagam poucos impostos. Talvez por se aproximarem de um sistema tributário menos injusto, eles dinamizam tanto a nossa economia. Já a indústria e o consumo, bem como telecomunicações, energia e combustíveis, são dolorosamente sobretaxados.
Mesmo com o empenho de Arthur Lira, presidente da Câmara, e o esforço do deputado Aguinaldo Ribeiro em avançar com a reforma, existem alguns obstáculos que precisam ser contornados. Indo direto ao ponto, quatro grupos relevantes e politicamente articulados estão contra as ideias básicas da reforma. São eles: os governadores, os prefeitos, o agronegócio e o setor de serviços.
Cada um deles tem as suas justificativas e tem meios de obstruir o debate no Congresso Nacional. Governadores e prefeitos não querem perder a autonomia de praticar política tributária. Já o setor de serviços e o agronegócio não querem ser sobretaxados.
“Lula, que deveria estar liderando o entendimento sobre o tema, ainda não apareceu para o jogo”
Em 2021, escrevi — aqui mesmo — uma coluna sobre o tema e propunha uma solução cartesiana para a reforma tributária. Dizia eu que o primeiro ponto é que tudo deve ser questionado. O segundo aspecto é que devemos dividir o problema no máximo de parcelas possíveis para facilitar a solução — começar tratando dos temas mais fáceis da reforma e ir avançando pouco a pouco sobre o que é mais complexo.
A prudência indica que a reforma tributária deveria começar apenas pelos impostos federais e, no passo seguinte, pelos impostos estaduais e municipais. Porém, como disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, ainda não combinaram o jogo com os governadores. E também não chamaram os prefeitos que demonstram muita insatisfação. O federalismo parece que ainda não foi considerado seriamente.
Para complicar, uma ofensiva tributária do governo federal no Judiciário tem trazido mais insegurança para o setor privado. Com sucessivas vitórias em embates sobre tributos, o governo aumenta a arrecadação antes da aprovação da reforma. Outro aspecto crítico é que, além de Lira e Ribeiro, apenas a equipe econômica demonstra verdadeiro empenho na questão. O presidente Lula, que deveria estar liderando o entendimento federalista sobre o tema, ainda não apareceu para o jogo. Sem o apoio dos governadores e prefeitos não haverá reforma tributária. Melhor, portanto, seria reduzir o escopo da proposta e, no momento, limitar as mudanças aos impostos federais.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847