Quais são os riscos inerentes ao agronegócio?
Entenda os fatores que podem diminuir o sucesso de organizações e como se preparar para um ambiente de incertezas
O Brasil é historicamente conhecido pelo privilégio do clima, relevo e terras férteis, comprovados desde a chegada dos portugueses ao nosso país, em 1500. Em sua carta, Pero Vaz de Caminha procurou expressar a quão rica e diversa poderia ser a nossa agricultura com a icônica frase: “Se plantando, tudo dá”. Apesar da vantagem edafoclimática e de serem possíveis amplas possibilidades de cultivo, a atividade agrícola tem se tornado cada vez mais desafiadora e competitiva.
O macroambiente é um dos protagonistas de qualquer cadeia produtiva e qualquer empresa dentro desta, interferindo em suas atividades diárias e influenciando o fluxo de produtos, serviços e comunicações; e o fluxo de informações e pagamentos no sentido contrário. O cenário geopolítico global altera, em parte, a configuração macroambiental para as cadeias de alimentos, agronegócios e biocombustíveis, criando desafios e oportunidades; e forçando ajustes e adaptações imediatas nos modelos de negócios.
A análise macroambiental pode ser mais bem compreendida como um agregado de fatores relacionados aos ambientes político-legal (1), econômico (2), natural (3), sociocultural (4) e tecnológico (5). A seguir, listaremos todos os riscos macroambientais que podem diminuir o desempenho dos produtores e empresas do agro:
1. Riscos Político-Legais:
– Déficit de lideranças globais, com fortalecimento do extremismo político;
– A tendência de menor integração mundial e o fortalecimento de alianças entre nações amigas;
– Questionamento sobre regimes democráticos e governos;
– Conflitos entre países, de guerras a embates comerciais e geopolíticos;
– Políticas migratórias restritivas também trazem riscos, assim como restrições comerciais (incluindo tarifas, embargos e cotas).
– Políticas de biocombustíveis e outras relacionadas a questão energética;
– A concessão de subsídios e outras políticas relacionadas a competitividade;
– E mudanças nas legislações tributária, ambiental, trabalhista e outras.
2. Riscos Econômicos:
– Variação na demanda por produtos agrícolas, reduzindo previsibilidade;
– Disputa por crédito e falta de disponibilidade de crédito para investimentos;
– Volatilidade do câmbio e indicadores macroeconômicos (PIB, inflação e a posição de fundos);
– Questões relacionadas ao emprego e custo de trabalho;
– Despesas com transporte, combustível, arrendamento e energia.
3. Riscos do Ambiente Natural:
– Excesso de chuvas, calor intenso e períodos de seca;
– Enchentes, ventos fortes, veranicos e geadas – eventos cada vez mais comuns;
– Pragas e doenças cada vez mais frequentes na agropecuária, ganhando resistência;
– Questões sanitárias e pandemias afetando a produção e a humanidade;
– Riscos de origem nuclear ou atômica com as guerras e conflitos geopolíticos.
4. Riscos Socioculturais:
– Mudanças no comportamento de consumo, como o vegetarianismo e o veganismo;
– Confiança do consumidor nas empresas e processos produtivos;
– Questões religiosas e culturais, voltando a ser frequente o distanciamento das comunidades;
– Ações ativistas, protestos e ataques a setores ou atividades;
– Atuação das mídias sociais e impacto desse ambiente no comportamento do consumidor.
5. Riscos Tecnológicos:
– Evolução de produtos plant-based e novos ingredientes desenvolvidos em laboratório;
– Adoção de automação, inteligência artificial e equipamentos de última geração;
– Novos insumos, especialmente os bioinsumos (biofertilizantes, biológicos e bioprodutos);
– Riscos envolvendo Cyber ataques, considerando o uso cada vez mais frequente do online;
– Comercialização via marketplaces (plataformas online) por meio de transações diretas;
– Melhoramento genético de plantas para tolerância a praga, secas/umidade e adaptação ao clima.
Além dos riscos do macroambiente, também devem ser considerados os riscos de cada produtor rural, de cada fazenda. Ai também são diversos: sucessão familiar (a); saúde financeira e endividamento (b) exigem planejamento eficiente. Processos de compra e venda (c) mal estruturados, falhas operacionais (d), acidentes (e) e perda de pessoas (f) impactam diretamente a produtividade e a segurança das operações. Outras ameaças incluem assaltos (g), inundações e variações de temperatura (h), incêndios (i), invasões (j) e acomodação das equipes (k). Além disso, a obsolescência de processos e equipamentos (l) e a má gestão de solos e culturas (m) podem aumentar riscos para as organizações do agro.
Diante desse cenário de riscos, para prosperar é essencial investir em pontos como gestão financeira, excelência operacional e inovação. Como costumo dizer, “é preciso ficar melhor antes de ficar maior”. O controle obsessivo de dados e indicadores é essencial para a correta tomada de decisão. Tudo precisa ser anotado na ponta do lápis e repassado com clareza para todos envolvidos. A formação de pessoas é outro ponto crucial para o sucesso, assim como trabalhar a imagem e a comunicação. Precisamos mostrar o trabalho bem-feito. Por fim, o espírito coletivista e a capacidade de unir esforços, compartilhar conhecimento e buscar soluções em conjunto será cada vez mais determinante para o sucesso de quem atua no agro. Pode-se perceber aqui neste texto quantos riscos a atividade corre, e se proteger é algo fundamental.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.
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