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Mundo Agro

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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio

É correto acusar o agro do Brasil de ser monocultura?

O agro brasileiro é referência em pelo menos 11 setores agrícolas e animais

Por Marcos Fava Neves
Atualizado em 25 out 2024, 11h28 - Publicado em 25 out 2024, 11h27

Nos últimos 30 anos, o agro brasileiro passou por uma revolução no cultivo de plantas e produção de animais para alimentos, fibras, energia e outros produtos, indo de importador a exportador de alimentos. Ainda assim se mantém em muitos a crença que “o Brasil é um país de monocultura”, ou seja, que utiliza a área agrícola para priorizar uma única (ou poucas) culturas.

Com extensões continentais, variedades de climas, solos e de realidades sociais, o Brasil é referência na produção de dezenas de produtos. Cada planta tem uma característica, o que interfere diretamente na área necessária para a sua produção. Na soja são 3,5 toneladas por hectare (10 mil m²); enquanto na cana, são cerca de 100 toneladas por hectare e na laranja 40 toneladas por hectare. A produtividade por hectare interfere muito na área de produção utilizada.

A demanda de cada produto é distinta e é a mais importante consideração na decisão de plantio. A soja, o milho, o trigo, o arroz, por exemplo, estão entre os produtos mais consumidos no mundo, por serem fonte de alimentação humana, animal (ração que irá gerar leite, ovos, carnes e outros produtos), biocombustíveis e outros. Com isso, como o volume de produção demandado é maior e a área mundial e brasileira também.

As culturas são divididas em perenes, semi-perenes e anuais.

  • As perenes (1), como café, laranja e florestais (eucalipto, pinus, seringueiras e outras) têm ciclo de vida longo, produzindo por vários anos;
  • nas semi-perenes (2), como a cana-de-açúcar, as colheitas são feitas anualmente em uma mesma planta, que rebrota depois de um tempo, possibilitando de 5 a 8 colheitas por planta;
  • e as anuais (3), como soja, milho, trigo, algodão, arroz, feijão, sorgo, produtos hortícolas e tabaco, completam seu ciclo em um ano ou menos. As produções animais também apresentam “ciclos curtos”, como em frangos e suínos, ciclos “perenes”, como leite e ovos, e ainda ciclos mais longos, como a produção de carne bovina.
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Brasil lidera a produção de mundial da soja, café, açúcar, laranja e suco de laranja. É o segundo maior produtor de carne bovina, celulose e etanol. Ocupa a 3ª posição na carne de frango, milho e fumo. Também grande destaque para dezenas de frutas, hortaliças, flores, nozes, tubérculos e outros. Esta versatilidade do agro indica que as críticas de que o setor seria dependente de apenas uma ou duas commodities não se sustentam.

O Brasil utiliza cerca de 240 milhões de hectares para a produção agropecuária (28,3% da área do país), sendo 160 milhões de pastagem e 80 milhões de hectares de culturas agrícolas. Dentro desta última categoria, a cana, o café, as florestas, hortaliças e frutas (culturas com cultivo intensivo e maior volume por área), utilizam cerca de 25 milhões; os outros 55 milhões são destinados aos grãos como soja, milho, algodão, trigo, arroz, feijão, cevada, aveia, amendoim e outros. Sobram áreas no Brasil para o plantio de todas as culturas, e se o cultivo não aumenta, é um problema de demanda, preços e margens.

O agro conta com práticas sustentáveis de preservar a saúde do solo, reduzir pragas e aumentar a produtividade. Um exemplo é o sistema de rotação/sucessão nas cadeias anuais, que permite a produção de duas ou até três culturas em uma mesma área no período de 1 ano, reduzindo a degradação do solo ao associar cultivos que fixem nutrientes essenciais para os cultivos seguintes, garantindo a saúde do solo e a produtividade a longo prazo, graças ao clima que permite o plantio em várias épocas.

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Sistemas como ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), ILP e ILF são técnicas de manejo que demonstram a possibilidade de produzir em larga escala e ao mesmo tempo conservar o solo e a biodiversidade do local quando culturas agrícolas, animais e florestais coexistem, reduzindo erosão e elevando a qualidade do solo, além de diversificar a produção e proporcionar maior renda aos produtores. A diversificação de cultivos (e de negócios/renda) é uma tendência forte, integrando setores, fortalecendo a economia circular e contribuindo para segurança alimentar global.

No Brasil, o agro ser classificado ou atacado como uma monocultura é outra crença que ainda existe na cabeça de muitos e que precisa ser revista.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.

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