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Mundo Agro

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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio
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A transformação sustentável no agronegócio

O papel do conceito de ESG para um futuro mais verde, produtivo e justo

Por Marcos Fava Neves
26 jul 2024, 08h43

Com alegria, chegamos à edição de número 50 da nossa coluna. Agradecemos a você, amigo leitor, que nos acompanha aqui semanalmente, onde, de forma humilde, compartilhamos informações, dados e estudos científicos para contar um pouco do setor mais importante da nossa economia, que garante comida, energia, fibras e muitos outros produtos ao redor do mundo. Nessa edição especial nosso assunto é um dos grandes destaques do agro brasileiro: a sustentabilidade.

Por muitos anos, a sociedade e as organizações trabalharam em um modelo linear de economia no qual a sustentabilidade da produção não era considerada uma pauta importante. No entanto, com o aumento da conscientização sobre as metas climáticas, as ameaças ambientais e o medo de um futuro incerto para as próximas gerações, a economia circular ganhou maior reconhecimento, destacando o conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Com essa evolução de pensamento, a sustentabilidade foi se fortalecendo.

Em uma palestra no “KES Summit”, John Elkington, um importante pesquisador na área da sustentabilidade, apresentou resultados de uma pesquisa com 10 mil jovens conduzida por sua consultoria. Entre os países com as maiores porcentagens de jovens “muito preocupados” ou “extremamente preocupados” com as mudanças climáticas, estão Filipinas (84%), Índia (68%) e Brasil (67%). Entre os países de alta renda, Portugal se destaca com 65%. O estudo apontou que as mudanças climáticas fazem com que esses jovens se sintam “tristes, temerosos, ansiosos, com raiva, impotentes e culpados” (mais de 50% das respostas), enquanto o otimismo foi mencionado por apenas 32% dos participantes.

Elkington, na mesma ocasião, mencionou em seu discurso o fenômeno dos “cisnes verdes”, ou seja, transformações profundas no mercado resultantes de mudanças significativas nos valores e atitudes da sociedade. Os “cisnes verdes” promovem um progresso exponencial na criação de riqueza econômica, social e ambiental, alcançando pelo menos duas dessas dimensões enquanto mantém a terceira estável. Diversas empresas estão inovando seus modelos de negócios para atender às demandas referentes a mudanças climáticas. A exemplo da Mahta, uma foodtech brasileira que tem como base a agricultura regenerativa, soluções alinhadas aos princípios de desenvolvimento sustentável e cadeias produtivas verdes.

Além das práticas de cultivo sustentável, o setor do agronegócio vem adotando crescentemente tecnologias inovadoras para melhorar a eficiência e reduzir o impacto ambiental. A agricultura de precisão, por exemplo, utiliza drones, sensores e sistemas de GPS para monitorar e gerenciar as culturas com maior precisão, reduzindo o uso de água, fertilizantes e outros insumos. Essas tecnologias não só ajudam a aumentar a produtividade, mas também minimizam os impactos ambientais negativos. Investimentos em infraestrutura verde e energias renováveis também estão ganhando espaço no agro. A implementação de sistemas de energia solar e eólica em fazendas e instalações agrícolas reduz a dependência de combustíveis fósseis e contribui para a queda nas emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a gestão sustentável dos recursos hídricos, através da captação e reutilização de água da chuva e da adoção de técnicas de irrigação mais eficientes, tem se tornado cada vez mais comuns nas propriedades.

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A “Bowles Farming Company”, localizada na Califórnia, Estados Unidos, é uma fazenda familiar de grande escala que tem adotado práticas avançadas de agricultura de precisão e sustentabilidade ambiental. Utiliza drones e sensores para monitorar as condições das culturas, otimizando o uso de água e fertilizantes. Os dados coletados permitem ajustes precisos na irrigação e na aplicação de insumos, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência. A fazenda também instalou um sistema de energia solar que não apenas fornece eletricidade para as operações da fazenda, mas também reduz significativamente a dependência de energia de fontes não renováveis, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Ainda, adotou técnicas avançadas de irrigação, incluindo gotejamento e monitoramento da umidade do solo em tempo real.

O papel dos consumidores e do mercado é igualmente importante. Há uma crescente demanda por produtos agrícolas sustentáveis, impulsionada por consumidores conscientes que estão dispostos a pagar um prêmio por produtos que são produzidos de maneira responsável. Certificações como a “B Corp”, que avaliam o impacto social, ambiental e de governança (ESG) das empresas, estão se tornando mais comuns no setor agrícola, incentivando as organizações a adotarem práticas mais sustentáveis e transparentes.
Empresas que demonstrarem e comprovarem sua liderança em sustentabilidade e responsabilidade social estarão mais bem equipadas para atrair investimentos e conquistar a confiança de seus clientes. Este enfoque também impulsionará a criação de políticas públicas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis e promovam uma economia mais verde. Portanto, a integração dos princípios de sustentabilidade no agronegócio não só moldará o futuro do setor, mas também contribuirá significativamente para um futuro mais sustentável e equitativo para todos.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Letícia Franco Martinez e Vinícius Cambaúva.

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