Mais trumpista do que Trump: Marco Rubio toma decisões implacáveis
O secretário de Estado ao qual cabe definir a aplicação de lei contra juiz brasileiro tem sido um executor duro de medidas discutíveis do governo

Marco Rubio quer ser presidente e tem um razoável caminho pela frente. Está conquistando a direita MAGA com a defesa veemente de decisões inflexíveis, como a cassação de vistos de autoridades estrangeiras que “atuam para minar os direitos dos americanos”.
É um passo muito maior do que o cancelamento de vistos de estudantes estrangeiros – um processo que, como secretário de Estado, ele vem protagonizando.
“Estrangeiros que atuam para minar os direitos dos americanos não devem ter o privilégio de viajar para o nosso país”, disse ele no X.
É uma argumentação da mesma família da empregada em relação aos estudantes estrangeiros, embora de gravidade evidentemente muito maior.
Os universitários tiveram entrada e residência aprovada no país para estudar, não para participar de atividades que incentivam a violência e destruir patrimônio das universidades, atitudes majoritariamente associadas aos protestos contra Israel.
É essa a reação de um governo antenado com os valores americanos? E o que aconteceu com o Rubio diplomático, senador mais tendente para posições menos inflexíveis e defensor do acolhimento aos exilados cubanos, agora também colocados na roda das potenciais expulsões?
A resposta depende das simpatias políticas, claro.
‘Fazendo um bom trabalho’
Para democratas e afins, Rubio está traindo suas raízes e suas convicções para ocupar espaços no governo e semear uma candidatura presidencial. Uma pergunta constante, nessas esferas, é “o que aconteceu com Marco Rubio”.
Para a esfera trumpista, o Rubio que tanto tentou um acordo que desse cidadania aos imigrantes e disciplinasse o ingresso no país era o de 2016. O de 2025 vive uma outra realidade, com a massa migratória admitida pelo governo Biden e a reação da opinião pública, mesmo de quem não se alinha automaticamente com o trumpismo.
Isso se refletiu no diálogo que ele teve com um ex-colega do Senado, o democrata Chris Van Hollen, que o inquiriu sobre a deportação do salvadorenho Kilmer Abrego Garcia, o caso mais conhecido.
“Nós deportamos integrantes de quadrilhas, inclusive o sujeito com quem você tomou uma margarita”, respondeu Rubio, referindo-se a uma cena, aparentemente montada, de Van Hollen com o salvadorenho, tirado da prisão para se reunir num bar de hotel com o senador que queria verificar suas condições.
“Eu lamento ter votado em você como secretário de Estado”, reagiu Van Hollen – Rubio teve uma aprovação unânime quando foi indicado, um sinal da boa reputação que tinha, inclusive entre os oposicionistas.
“Isso só confirma que estou fazendo um bom trabalho”, retorquiu Rubio.
‘Little Marco’
Um dos defensores de Rubio, Guy Ciarrocchi, diz que Rubio acompanhou uma mudança não só política como cultural. “A evolução de Rubio, seu comportamento e até sua confiança personificam perfeitamente a evolução de muitos republicanos que se tornaram embaixadores da revolução de Trump”, escreveu.
É claro que os opositores enxergam arrogância e oportunismo no “novo Rubio”, recompensado pelas quatro funções que acumulou no governo Trump, inclusive o internato de assessor de Segurança Nacional e como diretor interino da agência de desenvolvimento Usaid. Quando Elon Musk passou a motosserra no órgão, de responsabilidade do Departamento de Estado, Rubio aceitou e elogiou.
Mas não deve ter ficado nada infeliz com a saída de Musk das funções de cortador de gastos. Ninguém gosta de ter sua seara invadida – muito menos pelo homem mais rico do mundo e frequentador da intimidade do presidente.
Rubio, ao contrário, teve uma relação conflitante com Trump quando os dois disputaram a candidatura pelo Partido Republicano, em 2016. Trump o massacrou com um apelido humilhante, “Little Marco”, ou Marquinhos, uma óbvia referência a sua estatura menor.
Linha inflexível
Hoje ele tem uma presença enorme no governo, como assessor interino de segurança nacional e chefe da diplomacia. Obviamente, não tem a palavra final, privilégio do presidente. Mas conta, como ao dizer que “muito provavelmente” a Lei Magnitsky seria aplicada ao juiz Alexandre de Moraes.
Agora, a revogação dos vistos a autoridades não especificadas confirma a linha inflexível adotada pelo “novo Marco Rubio”
O filho de cubanos que saíram da ilha ainda antes do regime comunista, com o pai trabalhando como barman e a mãe como arrumadeira num hotel de Las Vegas, põe em jogo relacionamentos bilaterais importantes. O que os Estados Unidos ganham ao comprar brigas dessa magnitude?
Talvez o que conte é que não esperam perder muita coisa.