Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

O nó fiscal não foi desatado

O desafio é reduzir as despesas obrigatórias

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 15 Maio 2024, 23h50 - Publicado em 16 jun 2023, 06h00

O arcabouço fiscal, prestes a ser aprovado pelo Senado, estabelece um limite anual para o crescimento real da despesa federal de 2,5% ao ano, o que é positivo, mas dificilmente reduzirá a relação entre a dívida pública e o PIB, uma condição essencial para o equilíbrio macroeconômico e o crescimento. As projeções de superávit primário e sobre essa relação são muito otimistas. Continua elevado o risco de grave crise da dívida pública.

Cumprir as metas de superávit primário dependerá de forte aumento da receita ou de crescimento excepcional da economia, o que parece difícil. Em condições normais, o ajuste se faria por cortes da despesa, mas nesse campo o Brasil deixou de ser normal.

De fato, a margem para ajuste é quase nula e tende a diminuir. Os gastos obrigatórios tendem a se expandir em ritmo superior ao do crescimento da economia. Salários, Previdência, saúde, educação e programas sociais perfazem mais de 90% dos gastos primários federais, que excluem os encargos financeiros. Dispõe-se de menos de 10% do Orçamento para gastos discricionários: ciência e tecnologia, cultura e outros. No mundo, a margem é de 50%, em média.

“Cumprir as metas de superávit primário dependerá do crescimento excepcional da economia”

A economia não tem futuro sem a redução da proporção de gastos obrigatórios, mas o atual governo, alheio a esse drama, não tem liderança nem disposição para agir. Ao contrário, busca acelerar as despesas obrigatórias mediante aumentos reais do salário mínimo, os quais impactam os benefícios previdenciários, que, por seu turno, representam metade dos gastos primários da União. Não há nada sequer parecido no mundo. Além disso, defende um piso e a elevação dos investimentos, e promete elevar gastos com defesa.

Continua após a publicidade

O país carece de líderes capazes de mobilizar a sociedade e o sistema político em prol da redução da rigidez do Orçamento da União. Os parlamentares ainda não se conscientizaram de que os gastos obrigatórios castraram sua prerrogativa para definir prioridades e autorizar gastos em prol de políticas públicas pró-crescimento econômico, bem como aquelas favoráveis à urgente redução de desigualdades e à diminuição da pobreza. Eles não perceberam quão ridículo é influenciar menos de 10% do Orçamento federal.

Os gastos com educação e saúde são determinados por percen­tuais da arrecadação de impostos e não com base nas suas necessidades e nas possibilidades do país. Trata-se de forma equivocada de definir prioridades. Nenhum país bem-sucedido adota essa prática. Além disso, o Brasil despende anualmente em educação 6,3% do PIB, mais do que os 5,8% do PIB dos países ricos da OCDE. Mesmo assim, a qualidade da educação é, como se sabe, lamentável.

Essa grave situação tem permanecido intocada. Além disso, tem se agravado desde a Constituição de 1988. A exemplo do que aconteceu em outras ocasiões, as regras do arcabouço fiscal ignoraram essa preocupante realidade. Sem atacá-la, o Brasil tem um encontro marcado com uma grave e desestabilizadora crise fiscal. Será uma questão de tempo.

Publicado em VEJA de 21 de Junho de 2023, edição nº 2846

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.