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Maílson da Nóbrega

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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história

O Brasil viraria uma Venezuela

Um golpe de Estado levaria o país a ser um pária internacional

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 8 dez 2024, 10h07 - Publicado em 7 dez 2024, 08h00

Os alunos das escolas militares parecem ter muito a aprender sobre a realidade internacional surgida com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1991). Os oficiais incorporados aos quadros das Forças Armadas, também. Se fossem bem-informados a respeito disso, os oficiais que planejaram o golpe de Estado provavelmente não teriam sido tão amadores, tão incompetentes, tão bizarros.

A mentalidade da Guerra Fria incutida nos golpistas contribuiu para uma grave falha da intentona: eles não perceberam as mudanças no cenário mundial. No pós-guerra, golpes militares latino-americanos tinham por objetivo se contrapor a uma ameaça comunista. Muitos foram apoiados pelos Estados Unidos, que logo reconheciam o novo governo, no que eram seguidos por outros países ricos e pela maioria das nações em desenvolvimento. Apoiar ditaduras era o preço a pagar.

Melhor, os idealizadores do golpe nem sequer teriam pensado na empreitada. Menos ainda em incluir nos planos o assassínio do presidente da República e do vice-presidente eleitos e de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Buscaram evitar erros cometidos pelos matadores da vereadora Marielle Franco, cujos deslocamentos foram rastreados por usarem celulares. Os golpistas deixaram, todavia, uma profusão de pistas que facilitaram o trabalho da Polícia Federal. Um deles, pasmem, imprimiu parte relevante do plano em máquina do Palácio do Planalto, onde tudo ficou registrado.

“Haveria graves danos ao potencial de crescimento da economia e à geração de emprego e renda”

Golpes latino-americanos foram um fenômeno do pós-guerra. Saíram de moda a partir dos anos 1990. O comunismo praticamente desapareceu, hoje restrito a Cuba e à Coreia do Norte, sem nenhuma condição de ameaçar a liberdade e a paz mundial. Agora, ao suspeitarem de iniciativas de golpes, os americanos enviam altos funcionários para informar que não apoiarão qualquer tentativa de ruptura institucional. Foi o que fez aqui o presidente Joe Biden (2022). Golpes de Estado são repudiados por nações ricas. Depois, os regimes autoritários sofrem sanções para realizar eleições livres.

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No limite, um golpe de Estado poderia excluir o Brasil da Sociedade Mundial de Telecomunicações Financeiras Interbancárias (Swift, na sigla em inglês), como aconteceu com a Rússia após a invasão da Ucrânia. Trata-se do sistema que operacionaliza transferências entre instituições financeiras, como as realizadas no comércio exterior. Haveria graves danos ao potencial de crescimento da economia e à geração de emprego e renda.

Máxima ironia, o golpe faria o Brasil virar uma Venezuela. Em seus alertas, Bolsonaro imaginava que isso viria do nosso empobrecimento, o que dificilmente ocorreria diante da abismal diferença da economia e das instituições dos dois países. A causa seria a ação movida pelo anticomunismo bolorento dos militares, que perseguiam um autoritarismo semelhante (ou pior). A semelhança com a Venezuela decorreria da condição de pária internacional. A nova realidade precisa ser difundida não apenas nas escolas militares, mas também na tropa. A democracia é sempre a saída.

Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2024, edição nº 2922

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